outubro 29, 2007

Ilusionismo

A matilha pisa a relva molhada da última chuva, são trajectórias perdidas de significado, vontades sem o conforto conhecido dos objectivos instantâneos. O Dr. Spleen, sentado no banco do jardim à meia-noite de uma lua nova, adivinha o rugir das folhas no vento forte que os rodeia. Aquelas folhas são como as ideias conflituosas, pulsares de electricidade do cérebro humano. Alimentadas, vergadas por preconceitos que as dirigem e focam, é pelo conjunto que fazem na árvore que são julgadas (e note-se a transformação de uma metáfora noutra, coisa que eu - e quando digo eu... -, como narrador, não o deveria realçar se não fossem estas imagens a melhor e a possível tradução da tempestade que dá pelo nome do nosso anfitrião). A mente, assim, longe da rigidez ou da invariante que se designa por medo do vazio, é uma arena para sistemas de crenças, estruturas relacionais de desejos, um mundo de relações em rede. E este desagregar, interpretado de longe, abstraído dos detalhes neuroquímicos de uma realidade indiferente, é visto por alguns como o eu, a personalidade, o espírito, até (vejam lá a parvoíce) a alma imortal. Um outro exemplo de como tudo é decomponível, sejam conceitos, memórias, máscaras. Ou um corpo.

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