outubro 23, 2013

Segurança


"O que acontece quando queremos ter alguém num contrato de associação mas depois não conseguimos ter ninguém  a tempo inteiro?

A P. é uma mulher 30 anos, bancária, vive sozinha, faz o que gosta. Tem  uma história familiar que a faz desconfiar do purgatório das  boas intenções:  andou de um lado para o outro, entre pais e avós ( problemas de migrações, distâncias, chegadas). Passada a fase dos amores em prato do dia, sente agora a falta de um respaldo. Pois, mas P. tem uma pedra no sapato: como confiar?
A pergunta dela é uma boa pergunta como dizia o Jim Hacker do  Yes , Minister, porque é uma pergunta que todos fazem, mas atira ao lado. P. somatizou a ansiedade destes anos e, por coincidência, foi a pele, a última fronteira, que pagou. Para sobremesa, desenvolveu um jogo de damas com o evitamento fóbico: só está onde pode estar. A ilusão do controlo também tem direito à vida.
O desejo é a distância tornada sensível, registou  um senhor  (Blanchot) com que incomodo sempre os meus leitores de blogues. Uma das interpretações : o desejo é o que te torna indefeso, é o que anula a  distância. A P. tem olhado para  a confiança como condição prévia e por  isso todas as distâncias lhe parecem estradas de salteadores." -- Filipe Nunes Vicente 

Eu sou ainda mais literal na frase de Blanchot. Somos, temos, distância para quase tudo mas nem tudo é motivo de atenção, de posse (enfim, de desejo). Aquilo que queremos, o que assim passa a alvo, começa a ecoar no nosso mundo interno. A distância que sempre lá esteve torna-se visível. Mais um dos muitos faróis que nos guia os erros.