março 31, 2005

Simplicidade

A verdade quer-se nua, a informação livre.

março 29, 2005

Botões Políticos (parte II)

O segundo tópico refere-se às diferenças entre políticas de esquerda e direita. A divisão entre as tradições sociológica e económica está alinhada com esta divisão da política, mas só de forma aproximada. É evidente que o Marxismo é da primeira tradição, enquanto o mercado livre é da segunda. Porém, Durkheim e Parsons, ambos da tradição social, eram conservadores. Locke e Rousseau, da tradição do contrato social, são patronos do liberalismo e Rousseau mesmo de pensadores revolucionários (um contrato social, como qualquer contrato, pode tornar-se injusto tendo-se de renegociar progressivamente ou através de uma revolução). Assim, a discussão relativa ao estudo da natureza humana provocada pelas diferenças entre as duas diferentes tradições não é a mesma que a provocada pelas diferenças entre políticas de direita e esquerda.

O eixo esquerda-direita atravessa um conjunto impressionante de crenças distintas. Se alguém defende um corpo militar forte, é uma boa aposta que também defende um sistema penal rigoroso. Um defensor da economia de mercado tende a dar mais valor ao patriotismo, à estrutura familiar e à religião, é tendencialmente mais velho que novo, pragmático que idealista, censório que permissivo, defensor do mérito e não do igualitarismo, dos passos graduais em vez de revoluções, da baixa de impostos, e estará mais provavelmente num negócio do que na função pública. Já na posição oposta encontramos o mesmo tipo de aglomerados: se é alguém simpatizante da reabilitação social e de programas governamentais de ajuda, é provável que seja tolerante com as diferenças (como o homossexualismo), um pacifista, um igualitário e um secularista.

Porque será que a opinião sobre comportamentos sexuais está relacionado com políticas militares? O que tem a religião a ver com impostos? Antes de tentar entender porque as crenças de uma pessoa se identificam com uma estrutura mental conservadora ou liberal, é necessário entender como estas estruturas se constroem. [cont.]

março 24, 2005

Desculpas

Do alto da sua perfeição anunciada, as religiões do livro proclamaram o monoteísmo, a tirania do deus único. O dualismo religioso, como a luz e a escuridão de Zoroastro, secou nessa fonte inesgotável que é a fé dos Homens. Mas como explicar o estado do Mundo sem uma tensão de poderes? Uns (re)inventaram Satanás. Outros o livre arbítrio. Outros ainda, uma desculpa para queimar hereges.

março 22, 2005

Atalhos


Uma ponte é caminho entre margens, nada garante ser seguro. Um espelho é reflexo da tua cara, nada assegura que te reconheças. O silêncio é outra forma de palavra, nada te diz que carregue verdade.

março 21, 2005

Diferença

O erro está para o preconceito como a dúvida para a certeza. Quando confrontados, pedimos desculpa dos primeiros, ficamos ofendidos pelos segundos.

março 17, 2005

Botões Políticos (parte I)

(adaptado do capítulo 16 do livro "The Blank Slate" de Steven Pinker)

As ciências que estudam a natureza humana pressionam dois tópicos políticos muito controversos. O primeiro refere-se à nossa ideia de sociedade:
  • Na tradição sociológica, a sociedade é uma entidade orgânica coesiva. As pessoas são vistas como intrinsecamente sociais, partes de um superorganismo. Esta é a tradição de Platão, Hegel, Marx, Durkheim, Weber, Kroeber, Lévi-Strauss, do pós-modernismo e das ciências sociais.
  • Na tradição económica e do contrato social, a sociedade é um arranjo negociado por agentes racionais e com interesses próprios. A sociedade emerge quando um conjunto de indivíduos acorda em sacrificar alguma da sua autonomia em troca de segurança contra terceiros. Esta é a tradição de Maquiavel, Hobbes, Locke, Rousseau, Smith e Bentham. É a base da maioria dos modelos económicos actuais e das análises custo-benefício nas decisões públicas.

A teoria da Evolução moderna balança para o lado da segunda tradição. Defende que as adaptações do organismo e das suas estratégias comportamentais tendem a favorecer o indivíduo e não a comunidade, a espécie ou o ecossistema onde se insere. A organização social surge quando os benefícios de longo prazo do indivíduo compensam os ganhos imediatos. O altruísmo recíproco é apenas o conceito tradicional do contrato social redefinido em termos biológicos. Todas as sociedades - animais ou humanas - estão repletas de conflitos de interesse e são mantidas por uma dinâmica mista de domínio e cooperação.

É claro que os humanos não são solitários e não inauguraram a vivência em grupo após assinar um contrato. A sociedade é central à existência humana desde que esta existe. Mas a lógica do contrato social pode ter catalizado a evolução de capacidades mentais que tendem a manter-nos em grupos porque os benefícios eram maiores que os custos. Com um diferente conjunto de contingências (um outro ecossistema ou outra história evolucionária, por exemplo) e poderíamos agora ser parecidos com os orangotangos (que são animais solitários). [cont.]

março 15, 2005

Diferença

Aprendemos a tolerar os outros, as opiniões dos outros. Não vivemos isolados, somos parte não centro das atenções, partilhamos um caminho negociado todos os dias. Mas disso o que aceitamos? Que diferença entre o que respondemos por educação e o que comungamos? O que nos faz trocar algo já nosso pelo possível de uma promessa?

março 14, 2005

Fronteira

O Deserto e o Oceano são dois dos prazeres mais atávicos da Humanidade. Eles induzem o lado réptil e anfíbio adormecidos pela complexidade da consciência.

março 11, 2005

Haiku

O Real é um rio
eu e tu redes de nós;
O que pescamos?

março 10, 2005

1/2

Banalizamos tudo. Reduzimos em excesso aquilo que vemos, que somos, que construímos. Tudo é óptimo ou tudo é péssimo. Não temos passado para lá daquele que interessa à crítica do presente. Somos profetas de futuros evidentes mas não contabilizamos fracassos. Acreditamos saber os argumentos que interessam mas não ouvimos o que não entendemos. Nesta comunhão com o óbvio, perde-se muito do que faz falta. Somos apenas metade, ferramentas das nossas próprias palavras.

março 08, 2005

Top 7

Quais os sentidos mais importantes? A visão? A audição? Sem o sentido de humor e o sentido de respeito (nosso e dos outros), para além de indiferente, o Universo valeria muito menos.

março 07, 2005

O primeiro BUG

O primeiro caso de um bug (em inglês, um bicho tipo insecto) num programa. Uma traça encontrada no painel F do relé electromecânico 70 de um computador Mark II. Os operadores afixaram a traça no relatório dizendo que o computador tinha sido 'debugged', criando assim o termo computacional ainda hoje usado.

março 04, 2005

Motivação

O esquecimento é inevitável mas não está provado que o mereças.

março 03, 2005

Linha

Existe uma arte que separa o querer do tentar.

março 01, 2005

Ser

O que somos? Quantos possíveis nos fazem? Que santos e monstros se encerram no eventual da vida humana? Como ter certeza da nossa moral, dependente que está no mundo de fora? Como garantir aos outros o eu que lhes dou?