Mistura
Hoje, mais cedo cá fora neste entardecer de dia, um hábito que raramente vê: são ondas de gente nas artérias da cidade, um fervilhar de insecto, um vibrar ansioso da hora seguinte. Na rua, lento, quase de olhos fechados como à procura, observa os padrões do mundo, ouve, cheira, quase toca. Não nos separa do mundo os sentimentos que à flor de pele os nossos impulsos formam. Esses são os que faz a humanidade ser uma massa vulcânica de emoções incontroláveis, tão pródiga em respectivos desastres. O que sobra desse magma intersectado com cada um de nós são as mentes que separam e classificam, esses rostos imperturbados que nos distinguem. O Doutor Spleen não sabe quantas pessoas efectivamente existem neste planeta mas sabe ser um número flutuante, e menor, que o número de humanos expressos nas seguras contabilidades dos respectivos Estados. Por exemplo, na multidão que agora rejeita instintivamente a diferença expressa - neste instante porque haverá outros - na corcunda do pedinte, Spleen apenas vê uma mistura dispersa, comum, a atravessar-se rápida para os dois outros lados da mesma rua.
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