dezembro 01, 2006

Cultura e Genética (parte III)

É claro que os seres humanos dependem da aprendizagem observacional, reforçada pelo ensino, que inclui instruções verbais. Se existem animais capazes de copiar os seus pais e avós porque não surgem avanços culturais continuados nas suas sociedades? Duas sociedades de chimpanzés podem ter hábitos distintos mas ambas não estão continuamente a adquirir novos hábitos. Uma resposta provável é que, nos humanos, a principal ferramenta por onde a cultura é transmitida é a linguagem.

Tanto o sistema genético como o sistema linguístico são capazes de transmitir um conjunto indefinido de mensagens construídas como sequências lineares baseadas num pequeno número de unidades diferentes. Na genética, a sequência das quatro bases (ACGT) especifica um grande número de proteínas que, por sua vez, especifica um número indefinido de morfologias. Na linguagem, a sequência de 30 ou 40 fonemas especifica muitíssimas palavras cujo arranjo (segundo uma dada gramática) permite elaborar um indefinido número de significados.

Richard Dawkins acentuou esta analogia ao introduzir o conceito de meme, uma unidade de herança cultural semelhante ao gene. Um meme, argumenta ele, é um replicador. Uma dada anedota, por exemplo, ao passar de A para B, forma uma representação no cérebro de B que pode ser visto como uma replicação da anedota original. Existe espaço para selecção: uma boa anedota replica-se mais facilmente que uma má. Claro que o sucesso da replicação depende da natureza da mente humana bem como do meio cultural onde ela existe. Mas o mesmo pode ser dito sobre os genes: o seu incremento depende do ambiente e do conjunto de outros genes que estão presentes. [cont.]

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