novembro 28, 2006

Conexão

Na travessia não muito repetida daquele corredor, os piores temores do mundo porque inevitáveis. Em cada porta aberta uma espera misturada com éter e urina, um padrão reciclado em cada um daqueles rostos. Na sexta à direita, a mãe, talvez o último elo ao passado (o resto deixado em escritas de carta e amarelos de fotografia numa qualquer gaveta). A alcateia não sabe deste seu destino. Uma qualquer réstia de humanidade é sempre um ponto fraco a explorar e o Doutor Spleen, no que toca à parte que ainda possui e ao que os outros chamam de humano, gere-a com a parcimónia anual de um contabilista. Ali, o silêncio, mesmo misturado com o fedor agarrado às paredes, tem um valor preciso que lhe agrada. À sua frente, nem a dois metros e sozinhos, na profundidade da decadência de Parkinson, ela desconhece quem a visita. Um abismo que separa os dois sofás. Quando nos falha a ponte com o mundo, onde ficamos?

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