dezembro 04, 2006

Foco

Não fora o mecanismo de empurrar em espasmos ritmados as bolas de comida digerida para os oito metros de intestino delgado (ritmo esse que Kong júnior imagina existir, porque não lhe parece ser contínua este – e qualquer outro – tipo de passagem) não conseguiria acreditar que a quantidade de bolonhesa ingerida pelo irmão pudesse ser guardada num estômago aproximadamente humano. Entretanto (teria de haver um entretanto, não gastaríamos um texto, mesmo que inútil, num tal árido conjunto de deglutições repetidas apesar de, no parenteses anterior, já se ter dado – e aproveitado – a oportunidade a uma reflexão), entretanto, dizíamos, pára, lá fora, na rua, a silhueta de uma mão no vidro do restaurante. Lê algo. Ou observa. Uma mulher nova parece, o rosto a não fazer justiça àquela mão primeva, envolta num vermelho vivo em vestido destacado no escuro da noite e os três se viram. Só o Doutor Spleen permanece imóvel se exceptuarmos a trajectória de impressora com que os seus olhos massajam as linhas paginadas de um qualquer livro.

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