março 31, 2004

Sedna, ou, Como se passa de 9 para 8 planetas descobrindo outro

Sedna é o objecto mais distante do Sistema Solar jamais observado (a imagem da esquerda mostra a orbita do planeta em relação ao resto do sistema solar). A temperatura estimada à superfície deste corpo celeste é tão baixa (cerca de -240ºC) que o nome escolhido no baptismo foi a da deusa (imagem da direita) das criaturas marinhas dos esquimós Inuit.
 

A sua descoberta veio equacionar novamente qual a definição de planeta. Este conceito pode ser analisado sobre diversos critérios: 1) Um planeta é um corpo esférico? O Sol também é, (2) É um corpo que absorve mais energia do que aquela que emite? Nesse caso, Júpiter e Saturno não seriam planetas. (3) É um corpo com uma massa dentro de um intervalo [X,Y]? Esta parece ser a forma "menos má" de classificar planetas. Por um lado temos o problema das fronteiras (e se aparece um corpo com X menos 1 grama? Já não é planeta?) bem como existirem satélites maiores que corpos ditos planetas (por exemplo, a Lua é maior que Plutão).
 
Este conceito não é essencial para a Ciência mas é conveniente haver um termo relativamente objectivo para classificar os corpos do Sistema Solar (planetas, satélites, planetoides, asteroides...). Muitos cientistas consideram que Plutão não é um planeta (bem como Sedna). A descoberta de Sedna vem colocar novamente a questão que não são dez os planetas que orbitam em redor do Sol, nem sequer são nove, são oito.

março 30, 2004

Posse

Propriedade. A noção requer dois lados, relação que a cultura (e o código moral que dela emana) regem nos seus possíveis. Hoje é o que é. Mas qual o lado que possui? Eu às coisas? A coisas a mim?

março 29, 2004

Novo ponto na Blogoesfera

Um dicionário de silêncios. Eis um projecto que tanto quanto sei ainda não se fizera. Apesar de desconhecer os motivos dessa ausência, eu e o João do Estranho Amor iniciámos um.

Há silêncios que não se perdem se os quebrarmos. Espero que este assim seja.

[adenda, Julho 2009] O Dicionário de Silêncios terminou em Março de 2006. Parte do seu conteúdo, os 100 contos finais, estão a ser revistos e republicados no blog Soslaio.

Fenómenos e Interpretações

A Ciência é diferente das outras explicações do Universo. Quando se argumenta sobre este assunto é necessário separar o fenómeno da explicação do mesmo. Por exemplo, não se deve discutir os sintomas da "possessão diabólica". Em certos casos, eles existem e é inútil colocá-los em causa. A Ciência pode tentar explicá-los (uma disfunção psico-somática como a epilepsia, talvez uma reacção pós-traumática) apesar de não garantir mais que uma aproximação da verdade. Já a explicação popular nascida na Religião medieval (Satã) é infantil, supersticiosa e errada. É aqui que se deve centrar o esforço da desmistificação.

março 25, 2004

Escolhas

A Religião fornece réplicas, adornos numa cidade já construída. A Ciência dá respostas, tijolos num deserto infinito.

março 24, 2004

Simplificações

Muito da Filosofia, da Ciência, da Religião baseia-se em ideias simples de enunciar. Porque são necessários tantos livros, tantos argumentos? Deve ser possível explicar o conceito de romance num único parágrafo, mas substituiria isso a minha biblioteca?

março 23, 2004

Dissecação



O livro de jogos de Alfonso X (Rei de Castilha e Leão, 1221-1284) e um campeonato do mundo de xadrez no início deste milénio. A evolução de um jogo que acompanha a nossa História sobre um curioso azul de fundo. No século XIII o xadrez era um universo por explorar. Hoje é um quase deserto de descobertas, dissecado por gerações de génios e softwares especializados.

março 22, 2004

Dicotomias

A dúvida. Fonte que alimenta a Ciência e angustia a Fé. Em ambas é possível usar a razão para lidar com ela. Ou a fogueira.

março 18, 2004

A Linguagem Verde

Na Europa, entre os séculos XVI e XVIII, vários estudiosos escreviam textos e mesmo livros com mais de um nível de interpretação. Um para o leitor casual, para os leigos no assunto, e outros para os neófitos, os iniciados da arte em questão. A este género de linguagem chamava-se "a linguagem dos pássaros". As interpretações eram de diversos tipos:

Numéricos - A Gematria, o mapeamento das letras Hebraicas a valores numéricos que resultava num número inteiro para cada palavra. Estes números, dado o Hebraico ser o reflexo mais puro da lingua Adâmica, evidenciava relações ocultas entre conceitos aparentemente separados. Um exemplo, Cristo era considerado o receptáculo da paz, dado ambas as expressões serem associadas ao número 801.

Geométricos - A árvore Sefirótica é um grafo de dez nós, existindo 22 caminhos diferentes entre o nó superior e o inferior. Assim, em alguns textos, 22 também representa a árvore da sabedoria.

Sintáticos - onde uma palavra, frase ou dito que normalmente significaria uma coisa, podia significar outra tendo em conta o contexto comum do escritor e do leitor alvo com toda a Tradição supostamente partilhada. Este género de desvio pode ser difícil ou mesmo impossível de detectar nos dias de hoje. A História é a parte sobrevivente da imensidão contextual do Passado. Um exemplo: A linguagem dos passáros também se chamava "a linguagem verde". Porquê? Em Francês, verde é vert. E vert é como termina ouvert (aberto). Ao remover o prefixo, existe uma inversão semântica do significado (como nos prefixos 'des', 'a' ou 'in'). Logo vert que para o leigo significa verde, também significa para o iniciado o contrário de aberto. Assim, a linguagem verde quer dizer a linguagem fechada (a linguagem secreta).

Um dos motivos para este entrecruzar de significados pelos mágicos e alquimistas deveu-se aos processos inquisitoriais da Igreja. Assim, muitas coisas (com valor histórico, raramente científico) estarão escondidas nesses livros esotéricos. O problema é existirem milhares de formas diferentes de interpretar as mesmas frases. Uma vez perdido o século para o qual o texto nasceu, perderam-se essas camadas debaixo do verniz da aparência.

março 17, 2004

They found Water on Mars

Não resisti...

março 16, 2004

Espectro

A liberdade é a restrição mínima do possível. A escravidão a restrição máxima. Para lá da primeira encontra-se a anarquia. Para lá da segunda a colmeia.

março 15, 2004

Aos Georges Bushes (VII)

Semântica flutuante, moral deslizante.

março 11, 2004

Viagem XI (estação terminal)

Em orbita de Júpiter, a exactamente 100 Km de altura das superficies geladas de Europa vislumbra-se o reflexo de dois planetas misturados num quase único ponto de luz, Vénus e Terra (respectivamente a 855 e 690 milhões de Km).

Esta imagem revela ainda mais três planetas. Em cima do Sol, Mercúrio (a 795 MKm) e Úrano (a 3810 MKm). Em baixo, a nascer da superfície de Europa, Marte (a 862 MKm). O Sol encontra-se a 810 milhões de Km, 5.4 vezes a distância do Sol à Terra.

Em Europa é possível que exista um Oceano (em estado líquido devido à actividade geo-térmica do planeta) a salvo de radiações e meteoros por centenas de Km de gelo protector. Ou seja, a existência de água, calor e estabilidade num único local. Muitos esperam que isso seja suficiente para a vida nascer e evoluir.

março 09, 2004

Pequeno contributo a género quase anónimo

Os dias são os cabelos do Século.

A borracha, némesis do lápis.

Uma folha vazia é um conto por contar.

Se a moral fosse gravidade, os santos modernos seriam astronautas.

O excesso de equilíbrio é desiquilíbrio.

Escrever cortando palavras (disse-o O'Neil), filmar cortando imagens (disse-te alguém).

O branco, estória de todas as cores.

[1,2,3] Greguerías - humor e metáfora de mãos dadas

março 08, 2004

Ciclos

Tudo se repete. Ou nada? Num rio nunca passa a mesma água. Se nos esquecermos da evaporação.

março 05, 2004

Aos Georges Bushes (VI)

O tolo e o sábio parecem iguais aos olhos do tolo e do sábio.

março 04, 2004

Back from the Future (III)

 
"A digitalização do conhecimento iniciou-se nas últimas décadas do Século XX com a proliferação de protocolos para codificar as diferentes actividades Humanas (literatura, música, imagens, algoritmia, hologramia). Há medida que o corpo do saber Humano ocupava Exabytes, as primeiras ferramentas de acesso a essa informação eram manifestamente passivas (meros leitores e gravadores). O comércio informal de cópias não autorizadas era considerado um problema sério, apesar de se ter mantido numa margem que garantia suficientes lucros para a contínua produção de criações originais [...]

Com o passar do Século, as ferramentas transformaram-se, flexibilizaram-se na manipulação selectiva do código binário a que se reduzia a arte do possível [1]. Na fase seguinte era tecnicamente viável tomar produtos de grandes empresas (os antigos filmes de Hollywood como o exemplo mais paradigmático) e alterá-los, cortando, introduzindo novas interpretações na visão inicial do autor. Foi a época de Film-Jokeys (ou simplesmente, FJ's). Como consequência observou-se o colapso do efeito de retorno a curto prazo que a Indústria obtinha das suas produções. O instante que separava a estreia do produto original até à disseminação de centenas de variantes foi-se reduzindo até atingir um ponto crítico que resultou na falência indiscriminada das multinacionais produtoras de conteúdos. Todos preferiam variantes regionais que reflectiam melhor as preferências micro-culturais dos consumidores [...] A globalização transformara-se da superfície homogénea do preconceito dominante para um plano pontilhado de respectivos pontos de vista igualmente relevantes.

A partir da década de 2040, as ferramentas de manipulação tiveram um salto conceptual importante. A sua flexibilidade e expressividade era tal, que o que antes necessitava de recursos imensos poderia agora ser realizado por um pequeno conjunto de amadores interessados. A criatividade daí resultante foi imensa. Essas pequenas equipes não tinham os problemas das empresas da fase anterior. Os seus custos eram de tal modo pequenos que, uma vez com reputação, o seu esforço era normalmente compensado na primeira hora de exposição global. Por outro lado, o problema da criação de variantes por terceiros era menor, dado que a quantidade de produtos originais tinha crescido várias ordens de magnitude. Os produtos não precisavam de variantes, eles já eram o resultado final do poder da diversificação." - Althmin Moore, História da Digitalização (pg. 37 e seguintes)

[1] Diz-se do século XXI o da manipulação dos códigos - tanto dos bits digitais como dos nucleótidos orgânicos. Tudo isso terminou na fusão conceptual que se seguiu.

março 02, 2004

Viagem X

Marte a 6000 Km de distância e Phobos a 150 Km. No lado direito, parte da nossa galáxia, a Via Lactea.

Um nosso vizinho que no passado tinha atmosfera, água e talvez vida que nesse caso terminou estava a nossa a começar. Foi pena. No caso de Marte provavelmente a razão foi ser demasiado pequeno. A vida poderia ter nascido também em Vénus se não estivesse tão perto do Sol. Talvez o surgimento da vida seja fácil, já a sua manutenção é outra conversa completamente diferente.

março 01, 2004

Fraqueza

Não desejamos somente. Desejamos também o instante da posse, o prazer da vitória. É isso a insatisfação do desejo cumprido, a nostalgia desse momento, a necessidade infantil de o repetir.