março 18, 2004

A Linguagem Verde

Na Europa, entre os séculos XVI e XVIII, vários estudiosos escreviam textos e mesmo livros com mais de um nível de interpretação. Um para o leitor casual, para os leigos no assunto, e outros para os neófitos, os iniciados da arte em questão. A este género de linguagem chamava-se "a linguagem dos pássaros". As interpretações eram de diversos tipos:

Numéricos - A Gematria, o mapeamento das letras Hebraicas a valores numéricos que resultava num número inteiro para cada palavra. Estes números, dado o Hebraico ser o reflexo mais puro da lingua Adâmica, evidenciava relações ocultas entre conceitos aparentemente separados. Um exemplo, Cristo era considerado o receptáculo da paz, dado ambas as expressões serem associadas ao número 801.

Geométricos - A árvore Sefirótica é um grafo de dez nós, existindo 22 caminhos diferentes entre o nó superior e o inferior. Assim, em alguns textos, 22 também representa a árvore da sabedoria.

Sintáticos - onde uma palavra, frase ou dito que normalmente significaria uma coisa, podia significar outra tendo em conta o contexto comum do escritor e do leitor alvo com toda a Tradição supostamente partilhada. Este género de desvio pode ser difícil ou mesmo impossível de detectar nos dias de hoje. A História é a parte sobrevivente da imensidão contextual do Passado. Um exemplo: A linguagem dos passáros também se chamava "a linguagem verde". Porquê? Em Francês, verde é vert. E vert é como termina ouvert (aberto). Ao remover o prefixo, existe uma inversão semântica do significado (como nos prefixos 'des', 'a' ou 'in'). Logo vert que para o leigo significa verde, também significa para o iniciado o contrário de aberto. Assim, a linguagem verde quer dizer a linguagem fechada (a linguagem secreta).

Um dos motivos para este entrecruzar de significados pelos mágicos e alquimistas deveu-se aos processos inquisitoriais da Igreja. Assim, muitas coisas (com valor histórico, raramente científico) estarão escondidas nesses livros esotéricos. O problema é existirem milhares de formas diferentes de interpretar as mesmas frases. Uma vez perdido o século para o qual o texto nasceu, perderam-se essas camadas debaixo do verniz da aparência.

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