janeiro 30, 2004

Viagem VI

Estamos à distância de 150 milhões de Km de Sirius, a estrela mais brilhante do nosso céu, uma vizinha apenas a 8.6 anos-luz da Terra.

Deste ponto de vista pode-se observar o nosso Sol: o ponto brilhante, a norte, ligeiramente acima da segunda auréola de luz que rodeia a estrela. Um ponto discreto no meio de milhões.

janeiro 29, 2004

As estatísticas e a vida

Hoje, telejornal, RTP1, hora do almoço, comentário sobre mais um atentado em Israel,
«... 10 feridos, dentre os quais pelo menos 15 em estado grave...»
Mas será que já ninguém presta atenção aos números do conflito israelo-palestiniano?

Seis meses de ruminações

Fora aqueles que o fazem por motivos premeditados, manter um blog é uma actividade que oscila entre o prazer de um passatempo e a paciência de um cultivo. Torna-se comum encontrarmo-nos a pensar num tema, a ler uma ideia ou a trabalhar uma frase para estas notas acumuladas semanalmente. Pára-se o resto para escrever as fugidias palavras que receamos perder, finge-se atenção enquanto se lapida mentalmente o post de amanhã. Outras vezes, simplesmente, falta o motivo para continuar. Porque terminam metade dos blogs ao fim de um semestre? Não sei, mas talvez seja consequência da tensão entre o acto narcísico de expor aquilo que achamos interessante, estético (e que nos espelha para os outros) e a autocrítica sobre essa exposição. Uma prolonga (por vezes penosamente) o esforço enquanto outra questiona a validade do mesmo. Quando não há tensão ou o blog termina ou prossegue soterrando aquilo que merece a pena ser visto, lido, relembrado. Neste aspecto suponho ser semelhante ao ser-se escritor, que como alguém disse não é por aprender palavras novas que estes se fazem, é por haver coisas a dizer.

janeiro 27, 2004

Outros Traços

Ah este caminho
que já ninguem percorre
a não ser o crespúsculo

Matsuo Banshô (1644-1694)

janeiro 26, 2004

Traços

E nós? O tempo é infinito, o espaço quase. O real é uma linha no vasto plano de possibilidades. Onde está o segmento desenhado pelo Homem? Não sei mas não pares. Escreve. A caneta acabará um dia. Enquanto isso enchemo-la de nós próprios.

janeiro 24, 2004

as ideias passadas

É estranho como certas ideias fluem e refluem ao longo dos tempo, como que à procura de uma época em que sejam aceites. Outras ideias há que, pura e simplesmente, são sucessivamente desacreditadas, porque nos esquecemos que já o foram ou porque a ignorância é latente. Albert Hirschman designa de fracasomania, esta tendência a acharmos sempre que o passado é uma sucessão de erros. No entanto sem nos apercebermos, estamos frequentemente a combinar ideias passadas.

janeiro 22, 2004

Aos Georges Bushes (II)

Sempre foi perigoso restringir a realidade às nossas convicções e preconceitos.

janeiro 20, 2004

Revisualizar

E se o Bing Bang fosse uma explosão de NADA permitindo o movimento ao TUDO que sobrou?

janeiro 19, 2004

FW: SEM URGÊNCIA

Dou por mim a apagar os mails intitulados «FW: Urgente» (ou, pior ainda, «FW: URGENTE») com grande ligeireza. Será que esta difusão em grande escala da informação transforma rapidamente o activismo em blasé? Ou será que pura e simplesmente me cansei das fotos de crianças perdidas e dos tipos estranhos de sangue? De qualquer forma, o meu grupo sanguíneo é tão normal que nunca os posso ajudar - será isto uma razão ou uma justificação?

O que falta

Na essência do Homem encontra-se uma vontade de entendimento, um desejo de compreensão, uma ânsia de controlar uma Natureza indiferente. Por isso nomeamos as coisas, catalogamo-las para as tomar, adormecendo sobre o conforto dessa posse. Mas o mundo é infindo, quantas palavras nos faltam para descrever o real? O que sente o astrónomo quando pressente a infinitude do Universo? O atleta no instante da vitória Olímpica. O silêncio do deserto. Os olhos do carrasco no olhar da vítima. O místico no momento do êxtase. Uma mãe quando, por nada, perde um filho.

janeiro 15, 2004

Viagem V

Plutão (a 2600 Km) com o seu parceiro planetário Caronte (a 22000 Km) nas fronteiras internas do Sistema Solar. A temperatura em ambos é de cerca de 45 Kelvin (-228ºC). É uma ironia que os seus nomes sejam, desde a Antiguidade, associados aos calores infernais. Em cima observa-se a galáxia M31 quase a 3 milhões de anos-luz de distância.

Actualmente, muitos consideram Plutão como sendo um planetóide, o maior da cintura de Kuiper formada por milhões de corpos que circundam o Sistema Solar para além de Neptuno (ainda mais longe encontra-se a nuvem de Oort).

janeiro 14, 2004

Fragmentos

Somos prisioneiros do nosso tempo. Às verdades (e às outras) só as entendemos deformadas pelas convicções e preconceitos que nos definem. Podemos ler o Inferno de Dante ou a Canção de Rolando mas seriamos capazes de interiorizar o universo de um Homem medieval? Como será o aspecto de uma verdade futura? Entenderia Galileu a Teoria da Relatividade? Demócrito a Teoria Quântica? Como soaria o Ulisses de Joyce ao Ulisses de Homero?

janeiro 13, 2004

Pergunta

Quando a injustiça tem razão, o que acontece à razão?

janeiro 12, 2004

Nomic

Peter Suber no seu livro "The Paradox of Self-Amendment"[1] refere num anexo as regras de um jogo muito curioso denominado NOMIC. Neste jogo, uma das regras é a possibilidade de alterar as próprias regras (!). Assim, apesar das regras iniciais informarem que o jogador que atingir 100 pontos ganha, isso pode ser alterado desde que uma maioria qualificada (consoante as regras do momento) assim esteja de acordo. Um outro modo de ganhar é se algum jogador detectar uma contradição do conjunto de regras actuais que o impeça de jogar (será possível mudar esta regra?). Uma interessante forma de misturar legislação, jurisprudência (o processo de acumulação histórica) e doutrina (a interpretação sobre os primeiros dois) num jogo para vários.

Existem diversas partidas a decorrer baseadas neste conceito. Um deles, Agora está activo desde 1993! Um outro exemplo é um dos jogos favoritos do Calvin e do Hobbes:

Que regra se troca hoje?

[1] O livro discute a capacidade - e as consequências daí decorrentes - de certas leis se puderem auto-alterar criando contradições críticas no sistema legal.

janeiro 09, 2004

Aos Georges Bushes (I)

Os actos de pensar e não pensar são normalmente confundidos porque os sintomas são idênticos. Isto é a causa de muitos dos nossos problemas.

Recursividade Platónica

Serei fonte ou ponte desta ideia?

janeiro 07, 2004

Uma breve História da Computação (última parte)

As Redes Neuronais (RNs) possuem uma característica interessante: são sistemas dinâmicos. A sua estrutura e a forma como esta é parametrizada definem a evolução do sistema, a sua órbita dado o ponto inicial. Consoante o problema em questão, podemos optimizar os parâmetros, quer através de análise ou através de aprendizagem. Ou podemos optimizar a estrutura para produzir computação exacta! Como? Desde o inicio dos anos 40 que se sabe que as RNs podem calcular expressões lógicas. E desde os anos 90 que se conhecem formas de especificar a Máquina de Turing dentro de uma rede neuronal. As RNs possibilitam, numa mesma arquitectura, executar programas de computador e realizar processos de aprendizagem. Isto significa que existem sistemas dinâmicos que executam a Máquina de Turing e que problemas como o Halting Problem são herdados.

Muito se falou do efeito borboleta. Um sistema caótico é um sistema que, entre outras propriedades, possui sensibilidade às condições iniciais. Uma pequena diferença nos dados iniciais é multiplicada pela passagem do tempo até se tornar impossível prever o comportamento futuro do sistema (onde se estabelece o Horizonte de Acontecimento). É este horizonte que impede de sabermos se vai chover daqui a 1 mês por mais elaborados que sejam os modelos, por mais rápidos que sejam os simuladores. Isto é uma restrição séria ao nosso conhecimento do Universo.

Stephen Wolfram (nos anos 80 e agora no seu livro "A New Kind of Science") referiu nos seus trabalhos sobre processos físicos e computacionais uma outra restrição que ele apelidou de Irredutibilidade Computacional: predizer resultados futuros de um sistema é habitualmente tão difícil como o sistema produzir os mesmos resultados.

Mas o que foi falado aponta para outra restrição ainda mais séria: no caso geral, mesmo se soubermos com total precisão os dados iniciais, mesmo que o modelo usado seja perfeito (e neste caso o efeito borboleta seria eliminado) continuará a existir perguntas sem resposta, porque na generalidade haverá problemas que não são computáveis! Por exemplo, a pergunta se um dado sistema converge para um estado estável será isomorfo do Halting Problem. Podemos responder para alguns casos particulares, mas não é possível responder ao problema geral.

Se a Matemática alicerça o modelo do nosso Universo restringindo a verdade à consistência, talvez tudo o que seja possível modelar (e operacionalizar) se reduza ao limite do computável.

janeiro 06, 2004

Viagem IV

O maravilhoso azul impossível de Neptuno. Se tivesse de escolher um só planeta azul, seria este.

janeiro 05, 2004

Bom 2004

A memória ao lidar com o presente, transforma o nosso olhar do passado. A História não só é contada pelos vitoriosos como é descrita naquele único agora já perdido para sempre.