outubro 31, 2003

Efeito Borboleta II

"Force, violence, or fraud may not be employed to bring about the conversion of an unbeliever. Such means would be sinful" - The Catholic Encyclopedia
Santo Agostinho (354-430) é um dos doutores máximos da Igreja. Os seus escritos estruturaram a teologia católica durante (pelo menos) um milénio. O motivo deste post é a aparente relevância de uma interpretação. No Evangelho segundo Lucas, num banquete onde Jesus falaria e onde os convidados tinham-se recusado a comparecer, diz-se: "Sai pelos caminhos e valados e força-os a entrar, para que a minha casa se encha.(Lucas 14:23)". S. Agostinho interpretou a frase anterior dizendo que o Novo Testamento justificava o uso da força na tentativa de conversão dos pagãos. Em breve esta interpretação foi formulada juridicamente: "Os hereges devem ser coagidos à sua própria salvação mesmo contra a sua vontade". E devido à sua autoridade, este principio tornou-se mais tarde num fundamento da Inquisição. Um pequeno deslize hermenêutico que desencadeou outros. Daqui ao resto da História foi o voo da borboleta. [1]

outubro 30, 2003

Solidão

Nem lua nem estrelas -
O bebedor de saké
bebe sozinho.

- Matsuo Banshô (1644-1694)

Gestão

A melhor forma de manter um segredo é fazer com que os outros acreditem conhecer a resposta. [1,2]

outubro 28, 2003

Principio ou fim de viagem?

Corto Maltese - Hugo Pratt
Para o viajante a nostalgia do prazer não reside no destino mas no caminho.

outubro 27, 2003

As cores nas terras do Tzar



Sergei Mikhailovich Prokudin-Gorskii (1863-1944) foi um Russo que no inicio do século XX teve a ideia genial de criar um sistema que produzia fotografias a cores! Com este processo ele foi capaz de retratar em centenas de fotografias o Império Russo de 1907 até 1915, com as cores que até então só tinham sido descritas por pinturas.

A sua técnica baseava-se no mesmo principio utilizado hoje em dia (a composição de três cores fundamentais, como o sistema RGB). Ele tirava três fotografias a preto e branco com três filtros diferentes (vermelho, azul e verde) que eram posteriormente sobrepostas e projectadas para criar a imagem final a cores (como se vê neste exemplo).

outubro 24, 2003

Do people dream of electronic mistakes?

Nos tempos que correm, temos mais e-mails, e-business, e-money mas menos quem admite e-rrar.

outubro 23, 2003

Momentos Perenes


Uma Carta de Amor - Vermeer
Da nossa posição de espectador vemos um momento interromper outro.
A musica parou na espectativa de uma carta que ficará por abrir.

outubro 21, 2003

Liberdade de Expressão

"The right of freedom of speech and press includes not only the right to utter or to print, but the right to distribute, the right to receive, the right to read and freedom of inquiry, freedom of thought, and freedom to teach." - U.S. Supreme Court, Griswold v. Connecticut (1965) [1]

outubro 20, 2003

O Erro de Kant

No pensamento de Kant encontramos um sistema que classifica os diferentes juízos humanos. Eles são divididos de duas formas: (i) analíticos ou sintéticos, e (ii) à-priori ou à-posteriori. Um julgamento é analítico se corresponder a uma tautologia lógica. Um facto empírico, produzido pela percepção ou pela razão é um julgamento sintético. Num exemplo matemático, afirmar "4=sucessor(3)" é um julgamento analítico (corresponde à definição indutiva dos números naturais). Já afirmar "4=2+2" é sintético, existe um conteúdo informativo na expressão que só se pode concluir após alguma reflexão. Julgamentos à-priori são anteriores à percepção, independentes da experiência, enquanto os julgamentos à-posteriori (como seria de esperar) não são. Kant afirmou que todos os julgamentos à-priori são analíticos, existindo por isso apenas 3 combinações possíveis (ou seja, julgamentos analíticos à-posteriori não existem). Um exemplo:

à priori à posteriori
analítico
sintético
Lógica -
Matemática Ciência
A lógica é o edifício analítico que sustenta a matemática. Esta é uma estrutura à-priori mas com conteúdo sintético (os teoremas deduzidos a partir do sistema axiomático/lógico). Já a ciência constrói-se a partir de experiências empíricas (apesar do seu fundamento em modelos matemáticos). Porém, o que Kant se esqueceu, é que podem existir julgamentos analíticos à-posteriori!!! Algo que não procura a verdade, mas que a molda segundo os acontecimentos: o Sofismo. A velha arma retórica que através do uso inteligente(?) de falácias procura convencer outros das suas razões (desde os Gregos, nunca deixou de estar na moda). Assim, a tabela anterior ficaria completa com:

à priori à posteriori
analítico
sintético
Lógica Sofisma
Matemática Ciência
E hop!

nota: Para além do titulo ser uma referência humorística ao primeiro livro do António Damásio, o conteúdo do post é acima de tudo uma brincadeira. Quem somos para apontar um byte a Kant? E ver [1].

outubro 17, 2003

Um Gin Tonic p.f.

"Senhor Comendador, nunca subestime o poder da Estupidez!"
- disse, sentado, com a convicção que lhe restava.
Depois caiu-lhe a cabeça, nada mais havia a dizer...

ps: um bem haja para ti, Mário Henrique Leiria

outubro 15, 2003

Viagens


The Traveller - Magritte
Seremos feitos das coisas que nos pertencem?

outubro 14, 2003

Proto-hipóteses

O Homem, desde o inicio, sempre procurou conforto espiritual e físico perante uma Natureza violenta e indiferente. A consciência humana, dom e maldição da espécie, tornou-nos insatisfeitos e impulsionou a caminhada civilizacional que ainda hoje perdura.

Porém, encontraram-se respostas fundamentalmente diferentes à questão de como confortar a mente e o corpo. Enquanto a primeira necessitava de uma arbitrariedade reconfortante (personificada mais cedo ou mais tarde em deuses diversos), a segunda procurou leis (invariantes perceptíveis e interpretáveis) de modo a controlar, ou no mínimo saber o que esperar do futuro. No primeiro caso, a solução mais primitiva tomou a forma de superstições, actos rituais, iniciáticos que favoreciam o praticante por quaisquer motivos misteriosos (que só o xamã entendia). No segundo caso, procurou-se a interpretação do futuro através de sistemas repetíveis, incluídas no que hoje em dia se designa por ciências ocultas e artes divinatórias.

Ambas as respostas cresceram e criaram estruturas coerentes, intelectualmente mais elaboradas, lapidadas com a passagem e experiência dos Séculos. As primeiras desenvolveram-se em religiões inicialmente politeístas até à expressão máxima do monoteísmo (e da ausência no Budismo). Já as segundas, com a fantástica perspectiva que certos fenómenos Naturais (a Natureza seria indiferente, mas não caótica) seguiam regras inteligíveis, abriram o caminho para a ciência (da astrologia para a astronomia, da alquimia para a química...). Se a necessidade de conforto espiritual iniciou-se numa proto-religião alimentada por superstições arbitrárias, a procura do conforto físico alicerçou-se na facilidade prometida de uma proto-ciência.

Isto indica que possivelmente a superstição e actividades como a leitura das cartas, a quiromancia ou a astrologia tiveram um papel fundamental no desenvolvimento da civilização. Há três, quatro milénios atrás. A tragédia é a sua importância actual.

outubro 09, 2003

Haiku TV

Estranho cordão;
aquele que me liga
ao zapping d'outro.

outubro 07, 2003

Há umas que não resisto...


Calvin&Hobbes - Bill Waterson

Pontos de vista

As palavras lidas escondem o tempo que as separou a escrita.

outubro 06, 2003

O Espirito das Leis

"Holocausto: o esquecimento da exterminação faz parte da exterminação" - Baudrillard

O livro de Richard Miller, A Justiça Nazi (Editorial Notícias), contém uma apologia inicial denominada "O Espirito das Leis". Ele comenta o Direito nazi. Os nazis eram muito cuidadosos com o cumprimento das leis. Das suas leis. Do topo da montanha burocrática, muito do pessoal administrativo, juizes, advogados e outros ligados ao aparelho do Estado, cumpriam procedimentos hediondos e sentiam que os cumpriam segundo o espirito da Lei. Em cada decreto, as assinaturas eram escritas de consciência tranquila, na estrita obediência ao código. As consequentes acções, levadas a cabo por agentes do regime ("ordens são ordens" - a ubíqua e milagrosa frase que redime o gesto) eram por sua vez facilitadas pela obrigação moral própria do povo Alemão, para o qual a desobediência civil era um conceito estranho.

Foi esta preocupação de assegurar as acções, por mais questionáveis que fossem, por um muro protector de leis e regulamentos, que ironicamente serviu de arma para os acusadores de Nuremberga. Estes conheciam melhor o espirito das leis. O Direito não existe independentemente das pessoas que nele acreditam. Miller dá um excelente exemplo: durante uma missa católica romana, os fieis assistem e participam num milagre (o milagre da transubstanciação). Se um conjunto de ateus se reunisse e repetisse - até ao mais ínfimo detalhe - o mesmo conjunto de ritos, o acto não teria qualquer significado. Os nazis eram ateus jurídicos. Reproduziram o sistema legal que os antecedeu, mas esvaziaram o seu significado. Os tribunais não eram mais válidos que a missa imitada, mas providenciaram o sentimento de segurança e conforto que os cidadãos de uma nação habituada a um Estado de Direito, necessitam. Talvez os novos padres falassem com um sotaque estranho, mas repetiam os mesmo ritos e pareciam respeitar as mesmas tradições. A congregação, assim, mantinha-se tranquila. Ninguém pensava abandonar a Igreja. Só que a Igreja já não existia...

Os nazis acreditaram na Lei como um meio para atingir um qualquer fim. Mas o Direito não pode existir sem uma Ética válida, sem a protecção dos indivíduos que sustentam esse mesmo Direito. Se um tribunal é realizado por pessoas que não acreditam nisto, deixa de ser um exercício de justiça. Passa a ser uma farsa, um terrível instrumento de opressão. Os nazis não escreveram e respeitaram leis: arquitectaram e cometeram crimes.

outubro 03, 2003

As estrelas de Vah Gogh

Rui Gil, há uns dias, referiu as estrelas de Vah Gogh. Decidi procurá-las.

Vah Gogh - Noite Estrelada

outubro 02, 2003

Retro-Dilemas

Terá o primeiro que cometeu plágio, executado um acto original?

outubro 01, 2003

Interpretações


A Reprodução Interdita - Magritte
Mais que os olhos, o espelho é a ferramenta que melhor mostra aquilo que queremos ver.

Antigo e Moderno

O crivo de Eratóstenes é um algoritmo com 2300 anos. Aqui está uma solução na moderna (de 1998) linguagem de programação Haskell:
primos = crivo [2..]
where
crivo (p : ns) = p : crivo (filter (notdiv p) ns)
notdiv d n = n `mod` d /= 0
Que falta faz a semântica!