outubro 20, 2003

O Erro de Kant

No pensamento de Kant encontramos um sistema que classifica os diferentes juízos humanos. Eles são divididos de duas formas: (i) analíticos ou sintéticos, e (ii) à-priori ou à-posteriori. Um julgamento é analítico se corresponder a uma tautologia lógica. Um facto empírico, produzido pela percepção ou pela razão é um julgamento sintético. Num exemplo matemático, afirmar "4=sucessor(3)" é um julgamento analítico (corresponde à definição indutiva dos números naturais). Já afirmar "4=2+2" é sintético, existe um conteúdo informativo na expressão que só se pode concluir após alguma reflexão. Julgamentos à-priori são anteriores à percepção, independentes da experiência, enquanto os julgamentos à-posteriori (como seria de esperar) não são. Kant afirmou que todos os julgamentos à-priori são analíticos, existindo por isso apenas 3 combinações possíveis (ou seja, julgamentos analíticos à-posteriori não existem). Um exemplo:

à priori à posteriori
analítico
sintético
Lógica -
Matemática Ciência
A lógica é o edifício analítico que sustenta a matemática. Esta é uma estrutura à-priori mas com conteúdo sintético (os teoremas deduzidos a partir do sistema axiomático/lógico). Já a ciência constrói-se a partir de experiências empíricas (apesar do seu fundamento em modelos matemáticos). Porém, o que Kant se esqueceu, é que podem existir julgamentos analíticos à-posteriori!!! Algo que não procura a verdade, mas que a molda segundo os acontecimentos: o Sofismo. A velha arma retórica que através do uso inteligente(?) de falácias procura convencer outros das suas razões (desde os Gregos, nunca deixou de estar na moda). Assim, a tabela anterior ficaria completa com:

à priori à posteriori
analítico
sintético
Lógica Sofisma
Matemática Ciência
E hop!

nota: Para além do titulo ser uma referência humorística ao primeiro livro do António Damásio, o conteúdo do post é acima de tudo uma brincadeira. Quem somos para apontar um byte a Kant? E ver [1].

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