novembro 02, 2010

Constituição

O cérebro não evoluiu para efectuar qualquer tipo específico de pensamento. Este orgão não é excepção na regra que a selecção natural não tem um determinado fim à vista. As mentes e as culturas humanas originaram-se a partir das restrições e capacidades cognitivas do cérebro humano mas isso não significa que estamos irremediavelmente reféns dessas limitações. Há hoje já demasiada evidência para a irracionalidade da mente humana e da nossa capacidade sub-óptima de tomar decisões com a informação disponível [1, 2, 3]. Mas temos ferramentas para lidar com este problema, como a matemática, a lógica, a ciência ou a filosofia, que nos permitem acumular e aperfeiçoar conhecimento ao longo de gerações, criando, mantendo e melhorando conceitos abstractos, teorias e modelos, ou instrumentos tecnológicos que minimizam a falibilidade dos nossos sentidos e do nosso raciocínio. Se seguirmos certos protocolos de acção, se mantivermos uma dúvida sistemática, se controlarmos os nossos preconceitos, podemos avançar mais longe e com a liberdade possível na descoberta do mundo. Se aplicarmos, em resumo, uma das muitas faces do que se designa por método científico, estaremos mais preparados para descobrir, lidar e corrigir o erro que está e sempre esteve ligado ao ser pessoa. Nesse aspecto, o método científico é a constituição não escrita da razão humana.

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