Limites
Haverá limite para a ciência? Esta pergunta que já teve várias respostas definitivas ao longo do século XX, contém, pelo menos, uma ambiguidade: que limites são esses? Se nos referimos ao objecto de estudo, à realidade, e tendo em conta que nos situamos num mundo finito (até ver), a resposta é um desinteressante sim, pois é possível conter toda a informação num sistema limitado (até já existe um, o universo). Se os limites da pergunta referem-se à nossa ciência, esta feita por pessoas, a resposta deve também ser positiva, porque haverá sempre restrições económicas ao que se pode testar e investigar (os limites impostos pelos rendimentos decrescentes de um progressivo esforço), ou seja, o limite encontra-se numa questão prática: haverá sempre assuntos demasiado dispendiosos de explorar, independentemente das prioridades politicas da cultura em questão. Terceira opção: se os limites se referem à nossa capacidade de fazer ciência (os limites da inteligência, do cérebro humano) o problema mostra-se mais complexo. Uma sugestão de resposta: os nossos cérebros são fisicamente limitados, tanto em tempo de vida, na velocidade e concentração do pensamento, em número de neurónios e ligações sinápticas. Parece razoável que isto limite a capacidade de cada mente humana. Apesar da nossa plasticidade cognitiva ser assombrosa, cada individuo não pode aspirar a muito quando isolado. Aqui, porém, entra a sociedade que mantém o contexto cultural e a rede social que o define e sustém. Nela é guardado uma condensação de conhecimento e informação histórica muito superior ao que cada individuo é capaz de apreender. O que uma sociedade é capaz de concretizar encontra-se muito além da capacidade individual dos seus cidadãos e mais até que a soma das suas partes. Nesse sentido, a capacidade da sociedade poderá estar apenas restrita aos recursos existentes, sejam eles físicos, culturais ou organizacionais e, pelo menos os dois últimos, poderão ser ilimitados (ou seja, melhorados continuamente). Quando falamos dos limites humanos falamos verdadeiramente dos limites sociais onde as pessoas que fazem ciência se inserem. E aqui caímos novamente nos limites económicos (e noutros anteriores, como em preconceitos partilhados ou na ética vigente que impeçam determinados caminhos de exploração). Os limites da ciência são elásticos e onde se situam depende menos de algo intrínseco à realidade ou da contigência dos génios de serviço, mas sim das características e restrições culturais onde esse esforço é realizado.
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