novembro 21, 2007

Não existem suficientes mentes para albergar o explosivo crescimento da população de memes.

"As ideias podem ser perigosas. Darwin, teve uma, por exemplo. Nós responsabilizamos todos os tipos de inventores e inovadores por avaliarem, à priori, o impacto ambiental das suas criações, e como as ideias podem ter um impacto enorme do ambiente, não vejo razão para isentar os pensadores da responsabilidade de colocar em quarentena alguma ideia mortal que possam imaginar. Assim, se eu encontrar uma destas ideias, devo cerrar os meus lábios, estudá-la e reflectir até que encontre uma forma de a expressar de forma segura. [...] Mas aqui está uma ideia inquietante que há-de inevitavelmente de ser verdade, numa ou outra versão, e até onde posso ver, não é prejudicial publicitá-la. Talvez até ajude:

A população humana ainda está a crescer, mas não ao ritmo do crescimento dos memes. Existe uma competição entre memes para ocupar o espaço limitado dos cérebros humanos, e muitos terão de ficar de fora. Graças aos nossos brilhantes e incessantes esforços e ao nosso apetite insaciável por novidades, criámos um fluxo crescente de informação, em todos os meios de comunicação e em todos os tópicos e assuntos. Agora, ou (1) afogar-nos-emos em informação ou (2) não nos afogamos. Qualquer das alternativas é perturbadora. O que quero eu dizer por afogar? Que iremos ficar psicologicamente submergidos, incapazes de processar a informação disponível e realizar decisões sobre a nossa vida face à imensa quantidade de possibilidades e opções oferecidas. [...] Se não nos afogarmos, como vamos lidar com esta situação? Se, de alguma forma, aprendermos a nadar da crescente maré da infosfera, isso significará que nós -- ou seja, os nossos netos e bisnetos -- seremos muito diferentes dos nossos antepassados. Como seremos? O que quer que «nós» sejamos, ainda mamíferos, já robots, o que saberemos e o que teremos, para sempre, esquecido? O que acontecerá com as nossas referências culturais? Provavelmente os nossos descendentes reconhecerão algumas (as pirâmides do Egipto, a Aritmética, a Bíblia, Paris, Shakespeare, Einstein, Bach...) mas à medida que ondas e ondas de novidade passam sobre elas, o que perderemos? Os Beatles são maravilhosos, mas se a sua imortalidade cultural for comprada à custa de outras figuras do Século XX, como Billie Holiday, Igor Stravinsky, ou Georges Brassens (hmm... quem é este?) o que restará desta nossa cultura?

As diferenças intergeracionais que todos nós experimentamos, presumivelmente serão multiplicadas até ao ponto que a informação pura que todos armazenamos nos nossos gadgets serão incompreensíveis para os outros, excepto que teremos muitas pedras de Roseta inteligentes capazes de «traduzir» material estranho em formatos que (pensamos nós) seremos capazes de interpretar. [...] O que acontecerá ao nosso conhecimento comum no futuro? Penso que os nossos antepassados tiveram a tarefa facilitada: fora as informações discretas dos rumores e de alguns segredos de estado ou de comércio, as pessoas sabiam essencialmente as mesmas coisas, e sabiam que sabiam o mesmo. Simplesmente não havia muito que saber.

Eu vejo pequenos projectos que poderão nos proteger, até certo grau, se realizados com sabedoria. Pensem em todo o trabalho publicado em jornais científicos antes de, por exemplo 1990, que está em perigo de se tornar practicamente invisível para os investigadores porque não podem ser acedidos online por um bom motor de busca. Digitalizar tudo e disponibilizar na net não é suficiente pois há demasiada informação. Mas podemos criar projectos de comunidades virtuais formadas por investigadores reformados, com motivação e conhecimento dessas bibliotecas, que possam usar a sua experiência para seleccionar os melhores trabalhos tornando-os acessíveis à próxima geração de investigadores. Este tipo de actividade tem sido vista como um trabalho académico próprio para classissistas e historiadores mas não digno de cientistas de ponta. Acho que devemos mudar esta perspectiva e ajudar as pessoas a reconhecer a importância de providenciar, aos outros, caminhos mais claros entre as nossas florestas de informação. É uma gota de água, mas talvez se começarmos a pensar na conservação de informação valiosa, possamos salvar os nossos descendentes de um colapso informacional." adaptado do texto de Daniel Dennet em http://www.edge.org/q2006/q06_8.html#dennett

Sem comentários: