Fronteira, uma vez mais...
É fácil encontrar diferenças porque tudo é diferente. Promoveram-se, por exemplo, guerras religiosas na distinção subtil de dois quaisquer conceitos sagrados e que, agora e ao longe, são nada. O que já não é fácil é assimilar uma diferença essencial, que delimite uma fronteira argumentável entre X e não-X, entre dentro e fora, entre nós e eles. Seja porque a essência de algo é ininteligível, um conceito escorregadio que escapa ao arbitrário das classificações humanas; seja porque não somos imparciais, estamos sempre a observar de um ponto de vista que raramente se coaduna com outras perspectivas. O Dr. Spleen reconhece (e aceita) esse contaminar da análise pela trajectória e pelo contexto que nos constrói. É inútil acreditar que a separação que consideramos nossa seja um reflexo fiel da realidade, que a ética que usamos seja a construção rigorosa da Justiça ideal. Por isso, assumindo essa sua limitação, sabe que é inútil transferir-se, olhar lá fora pelos olhos dos outros. A ilusão que sobra é a mudança, ou nossa ou desse estrangeiro que nos vizinha e a que se chama mundo. E qualquer que ela seja, vê-se a si mesmo heterogénea, numa ridícula tentativa de tornar distinta essa mistura irremediável que somos todos.
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