Cultura e Genética (última parte)
A inteligência social é uma característica comum aos primatas. O antropologista Robin Dunbar argumenta que esta é a principal razão pelo aumento da massa cerebral: existe uma forte correlação entre o tamanho do cérebro e a dimensão dos grupos sociais entre cada espécie. A inteligência tecnológica existe também noutros primatas (os chimpanzés usam ferramentas no seu ambiente natural) mesmo que a capacidade de construir ferramentas seja muito rudimentar (mesmo em cativeiro). Os Austrolopitecus usavam ferramentas mas não existem evidências de uma capacidade deliberada de construção. Já o Homo Erectus mostra uma grande evolução, com a manufactura de machados simétricos (indicando que o construtor tinha já uma imagem mental do objecto pretendido). Mas em tudo isto existe um enorme conservadorismo: um crescimento limitado tecnológico aliado a uma falta de capacidade de inovar. Mesmo nos humanos modernos existe evidência que mostra um grau de separação entre a inteligência social e a técnica. Por exemplo, os autistas são deficientes em entender o comportamento de outros humanos mas melhores que a média na compreensão de ferramentas e objectos inanimados.
Finalmente, existe uma óbvia selecção que favorece um melhor conhecimento do ambiente. Mas foi isto obtido através do aumento geral da inteligência ou a partir do desenvolvimento de um módulo mental específico? Em favor desta segunda opção, pode-se argumentar que todas as sociedades humanas partilham certas ideias do mundo natural. Primeiro, todos os seres vivos pertencem a um, e a um só, «tipo natural». Um animal é um cão ou um gato e por aí fora, necessita pertencer a uma espécie (não a zero nem a duas) e não muda de espécie. Segundo, partilhamos a ideia que os tipos naturais podem ser classificados hierarquicamente. Por exemplo, um cão e um leão são 'comedores de carne' (e não 'comedores de folhas'), mamíferos (não são repteis ou peixes) e animais (não são plantas). Estas atitudes humanas generalizadas podem reflectir uma predisposição inata. Em alternativa, elas podem ser universalmente aceites por serem praticamente verdade e seriam aprendidas pelas várias sociedades humanas devido representarem conhecimento importante. Um segundo argumento em favor de um módulo mental específico é a facilidade com que as crianças adquirem estas crenças.
Voltando ao argumento, o aumento do cérebro humano nos últimos cem mil anos foi associado com um aumento das três inteligências: social, técnica e de história natural. Porém, elas eram relativamente independentes. Milthen sugere com o advento da linguagem, incluindo a gramática, evoluiu também neste período. Apesar de ser difícil sugerir uma data mais precisa, a explosão cultural dos últimos 50.000 anos, que levou a um acumular progressivo de conhecimento, pode ter coincidido com o terminar da separação destes três módulos, acção na qual a linguagem terá tido um papel fundamental. Com a linguagem é possível estabelecer e comunicar aos outros analogias entre os três processos mentais (usamos a mesma gramática para falar de conceitos relativos dessas três áreas). Se este argumento estiver certo, devemos à linguagem o ter-nos libertado do conservadorismo que durou um milhão de anos durante o Paleolítico Inferior e colocar-nos no caminho da evolução cultural que se seguiu.
[adaptado do livro The Origins of Life de John Maynard Smith e Eörs Szathmáry]
Finalmente, existe uma óbvia selecção que favorece um melhor conhecimento do ambiente. Mas foi isto obtido através do aumento geral da inteligência ou a partir do desenvolvimento de um módulo mental específico? Em favor desta segunda opção, pode-se argumentar que todas as sociedades humanas partilham certas ideias do mundo natural. Primeiro, todos os seres vivos pertencem a um, e a um só, «tipo natural». Um animal é um cão ou um gato e por aí fora, necessita pertencer a uma espécie (não a zero nem a duas) e não muda de espécie. Segundo, partilhamos a ideia que os tipos naturais podem ser classificados hierarquicamente. Por exemplo, um cão e um leão são 'comedores de carne' (e não 'comedores de folhas'), mamíferos (não são repteis ou peixes) e animais (não são plantas). Estas atitudes humanas generalizadas podem reflectir uma predisposição inata. Em alternativa, elas podem ser universalmente aceites por serem praticamente verdade e seriam aprendidas pelas várias sociedades humanas devido representarem conhecimento importante. Um segundo argumento em favor de um módulo mental específico é a facilidade com que as crianças adquirem estas crenças.
Voltando ao argumento, o aumento do cérebro humano nos últimos cem mil anos foi associado com um aumento das três inteligências: social, técnica e de história natural. Porém, elas eram relativamente independentes. Milthen sugere com o advento da linguagem, incluindo a gramática, evoluiu também neste período. Apesar de ser difícil sugerir uma data mais precisa, a explosão cultural dos últimos 50.000 anos, que levou a um acumular progressivo de conhecimento, pode ter coincidido com o terminar da separação destes três módulos, acção na qual a linguagem terá tido um papel fundamental. Com a linguagem é possível estabelecer e comunicar aos outros analogias entre os três processos mentais (usamos a mesma gramática para falar de conceitos relativos dessas três áreas). Se este argumento estiver certo, devemos à linguagem o ter-nos libertado do conservadorismo que durou um milhão de anos durante o Paleolítico Inferior e colocar-nos no caminho da evolução cultural que se seguiu.
[adaptado do livro The Origins of Life de John Maynard Smith e Eörs Szathmáry]
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