dezembro 15, 2006

Cultura e Genética (parte IV)

Existem, claro, diferenças entre genes e memes. Os genes são transmitidos de pais para filhos. Os memes podem ser transmitidos horizontalmente, ou mesmo dos filhos para pais. Mas existe uma diferença ainda mais profunda sobre estes dois conceitos. Genes especificam estruturas ou comportamentos - i.e., fenótipos - durante o desenvolvimento. Na herança, o fenótipo morre e apenas o genótipo é transmitido. A transmissão dos memes é muito diferente. Um meme é um fenótipo, o análogo ao genótipo seria a estrutura neural no cérebro que especifica esse meme. Quando A conta a anedota a B o que é transmitido é o fenótipo (A não passa uma parte do seu cérebro a B). Daqui segue que a herança nos memes pode conter caracteres adquiridos: B ao receber a anedota pode criar uma variante ainda com mais piada, e transmiti-la a C já com as devidas alterações. Nesse sentido, a transmissão cultural é Lamarckiana. Por estas razões, não é possível usar a teoria da genética populacional aos memes.

Uma outra implicação da linguística é a noção da mente modular (cf. post anterior). Estudos sobre a linguagem e sua aquisição sugerem que a habilidade para falar não é um aspecto relacionado com a inteligência geral, mas sim uma competência específica. Como Noam Chomsky argumenta, nós temos um «orgão da linguagem». A evidência desta perspectiva levou à sugestão que o cérebro possui competências específicas para certos domínios. No jargão actual, diz-se que o cérebro é modular (conceito que tem sido reforçado em estudos neurológicos tanto em pessoas normais como em pacientes que perderam parcelas de massa cinzenta). [cont.]

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