novembro 06, 2006

Estética

A estética é um balde que não se enche. O acumular de modas, hábitos e prazeres não esgota o possível do amanhã; facilmente se volta a algo já esquecido e outrora apreciado que renegar, para sempre, um qualquer gosto e, independente do labirinto de escolhas e desistências, há sempre o vislumbre de um caminho. Por exemplo, na culinária o paladar é o fim no qual outros sentidos, o olfacto e a visão são o meio e, no entanto, há sempre algo proibido nessa travessia. Entre a comida que se expõe e a que se digere existe um esconder consciente do processo de transformação: o converter da disposição fotográfica dos alimentos à energia que nos anima, não é geralmente apreciado. Não há fotografias à metade de uma refeição (o horror de um zigurate de arroz destroçado por meteoros em forma de garfo ou um pastel de bacalhau arrasado em dentadas, mesmo que brancas, de alguém) nem do bolbo que formamos entre misturas de saliva e ritmos de maxilar, engolidos em espasmos silenciosos até ao mar de ácidos que nos habita. Quanto ao apreciar estético do Doutor Spleen sobre o reestruturar de uma pessoa, ocorre o mesmo. Facilmente se observa alguém no seu normal, nestes correres de dias que passam. Uns, poucos, observam também os resultados que ele obtém, corpos como o que o Inspector Rousseau irá encontrar, pela manhã, num armazém insuspeito de fitas adesivas. Já a órbita que leva de um normal ao outro é o que Spleen repudia a mostrar a terceiros.

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