Esforços
De acordo com a nossa tradição, toda a maldade humana é explicada ou por cegueira e ignorância ou por fraqueza, a inclinação de cedermos à tentação. Nós - segue o argumento - não somos capazes de agir bem naturalmente nem de agir mal deliberadamente. Somos tentados para fazer o mal e é necessário um esforço para fazer o bem. Tão enraizado está esta noção - não através dos ensinamentos de Jesus da Nazaré mas segundo as doutrinas da filosofia moral cristã - que as pessoas normalmente associam o bem com algo que não gostam e o mal como algo que os tenta. [...] É, creio, um facto simples ser igualmente comum sermos tentados a fazer o bem e ser preciso um esforço para fazer o mal. Machiavelli soube isto muito bem dizendo n'O Príncipe que os governantes tinham de ser ensinados a "como não serem bons" e, por isto, não significa que tinham de aprender a ser maléficos mas simplesmente a evitar ambas as inclinações e agir de acordo com motivações políticas - distintas das morais e religiosas - e criminais. Para Machiavelli o padrão com o qual se julga não é o 'eu' mas o mundo - o padrão é exclusivamente político - e é isto que faz com que ele seja tão importante para a filosofia moral. Ele estava mais interessado em Florença do que salvar a alma. Para ele aquelas pessoas mais interessadas na salvação da respectiva alma deveriam ficar fora da política. Hannah Arendt, Some Questions of Moral Philosophy
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