novembro 13, 2006

Dádiva

O Dr. Spleen acredita que a noção do mal é um conceito referenciável. Expliquemos. Para a maioria das pessoas (admite ele) a noção de moral resume-se ao cumprimento automático de uma série de preceitos - um regulamento, por assim dizer - onde a acção em questão é imoral ou moral se viola ou não as regras do 'jogo' no qual o sujeito e os outros (estejam eles de acordo ou nem por isso) interagem. Por exemplo, o adultério ou o incesto são imorais porque o regulamento judaico-cristão assim o afirma. Em relação a esta massa de gente, Spleen não vê nenhuma motivação para concordar com um regulamento específico, tenha ele passado na prova dos séculos, na sopa destilada das culturas ou apoiado com maior fervor ou razão numa apologética qualquer. Um acordo regimental é tão válido como outro, e Spleen não precisa de burocracias que lhe atafulhem o ego. Onde Spleen hesita, porém, é naqueles, poucos?, que observam ser a Ética um processo de descoberta, uma engenharia mental, um sangrar que reflecte nos outros os anseios individuais dos nossos medos e vice-versa. Porque de frente a um espelho não há nada de mais corajoso que dar a palavra à imagem que nos imita.

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