No planeta Ankh foi dominada, há muito, a ciência de detectar e prevenir terramotos. Ao início, esta técnica permitia conter terramotos de grau 6 sendo agora capaz de deter sismos até 8.3 (usamos a escala de Richter por facilidade: para entender como os Ankhianos os classificam obrigar-nos-ia a uma pós-graduação em cores e tonalidades). Mas atenção, dizem certas vozes, cada vez que um tremor é detido, aumenta a tensão resultante na crosta Ankhiana. Seria melhor escolher criteriosamente quais se poderiam deter, mesmo que isso implicasse perdas de propriedade ou civilização. Só que a perspectiva de deixar incólume a destruição natural quando se pode evitá-la não costuma vingar no espírito bem intencionado das multidões votantes. Assim, desapareceram do planeta todos os terramotos menores à custa de sistemas de prevenção cada vez melhor organizados suportados em orçamentos progressivamente crescentes. Mas o desiquilíbrio, invisível, pulsante, aumenta: a dinâmica geológica da crosta acumula tensões tais que resultam, a ritmos anormalmente frequentes, em terramotos de grau 10, 10.5, 11. Estes, porém, não são vistos como facturas de uma política míope, mas apenas como uma face da providência que, por ora, nada há a fazer.
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