Resoluções Adiadas
Os sonhos são no Homem o ruído que nos aceita qualquer pergunta. Mais. São também a história que atravessa essas perguntas nascidas elas de receios, ânsias ou impulsos retidos pelo difícil do mundo. O Doutor Spleen, de costas para o colchão suíço, observa, com demora e no tecto, os pontilhados aleatórios pelo acumular de humidade. A casa no silêncio de fim de manhã demora a acolher essa viagem onírica de todos os seus dias. O resto dorme, horas passadas, indiferentes às lâminas de luz que cruzam o escuro do quarto (na verdade, também Kong Sénior está acordado e, apesar de manter os olhos fechados, a imaginação percorre uma fantasia pictórica, obscura e demasiado complexa para caber neste parêntesis - é a virtude e o dilema do narrador, pretender saber mais que as suas personagens e, no entanto, dar-lhes a vez possível para as linhas que tem). O Doutor Spleen, entre os padrões que adivinha na humidade, reconhece haver poucas fronteiras menos estimulantes que essa demora arrastada a que se resolveu, um dia, chamar insónia.
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