maio 25, 2006

Criação

Num Universo morto, onde existam apenas estrelas, gravidade, vácuo, buracos negros, não existe significado. Não é o caso do nosso. Pelo menos, a Terra é uma enorme fonte de criação de sentido. De onde vem esse sentido? No princípio da vida, nos objectos químicos percursores das proteínas, do RNA, das proto-bactérias, antes de existir um ambiente suficiente complexo para albergar a possibilidade de vírus, não existia função. O mundo continha dentro de si gerações de robots orgânicos que manipulavam repetidamente o ambiente e dificilmente algo mais. Mas erravam (afinal, a consequência inevitável de fazer algo). Se fosse possível a escolha, um robot preferiria não errar pois o erro paga-se, quase sempre, com a destruição (nessa altura, com a desagregação química). Mas essa escolha não é possível e, assim, alguns desses erros abriram a possibilidade de novos objectos, de novos robots. O interagir desta variação com o mundo permitiu colher os 'benefícios' da evolução. Os milhares de milhões de iterações conduziram a uma elaboração progressiva da estrutura desses objectos (que resultaram, por exemplo e num estágio já muito avançado, ao surgir da célula). Alguns desses robots, que participavam cegamente nessa organização maior que os confinava, tornaram-se essenciais a determinadas tarefas do seu funcionamento, i.e., começaram a ganhar função e, em consequência, a ganhar sentido. Nestes erros uma porta para a vida, para a semântica das coisas e, muito muito depois, para nós.

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