abril 28, 2006

Um Equilibrio Flutuante (parte IV)

Este mecanismo de equilíbrio também é relevante nas discussões da responsabilidade em geral. À medida que aprendemos mais sobre determinado sistema, encontramos argumentos para passar certos indivíduos para o outro lado da fronteira (de responsável para inocente ou, mais raramente, vice-versa). É esta ideia que cria a aparência que a fronteira está constantemente a recuar; mas é necessário observar melhor este fenómeno. É possível que façamos revisões estruturais nas nossas políticas de quem prender ou de quem tratar (a homossexualidade já não é motivo de prisão e é cada vez menos vista como doença) sem alterar, por exemplo, as nossas convicções de fundo. Por outro lado, não mudamos os nossos conceitos de culpado e inocente se descobrimos um inocente encarcerado; colocamo-lo em liberdade mas não mudamos o critério que usámos antes. É precisamente por não mudarmos o critério que o reconhecemos como inocente. Do mesmo modo, pela força da evidência, podemos inocentar uma categoria de indivíduos sem qualquer mudança ou erosão no nosso conceito de responsabilidade moral. Com isto, poder-se-ia supor que existe menos responsabilidade na sociedade do que suposto inicialmente. [cont.]

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