A Emergência da Polícia
Uma economia onde quem contribuí para a sociedade (via impostos e taxas, por exemplo) mas que não tenha um sistema de fiscalização, permite a invasão de elementos parasitas (free-riders) cuja estratégia é aproveitar-se do bem comum sem colaborar (e, assim, obter maiores ganhos). Desta forma, é natural que surjam esquemas de punição para coagir os elementos da comunidade a participar no esforço conjunto. Isto ocorre mesmo em comunidades pequenas, onde não existe um estado central que produz normas e fiscaliza o seu cumprimento. Experiências recentes feitas em laboratório mostram evidência que até em interacções anónimas (onde não existe reputação nem redes familiares que motivam e reforçam a colaboração) emerge naturalmente um esquema de punição que força, com sucesso, a colaboração média da comunidade. Este tipo de investigação vê a cooperação como um sinónimo de punição altruísta [1,2,3].
Existem dois esquemas básicos de punição: a vingança (termo técnico: peer punishment) e a polícia (pool punishment). Numa sociedade com poucos parasitas, a vingança é economicamente mais eficiente (manter uma polícia sai caro) mas é menos estável. Na maior parte dos casos reais, a polícia acaba sempre por emergir (exemplo: no Wild West um dos primeiros acordos comunitários numa nova cidade era atribuir a alguém os poderes de xerife).
Também em laboratório estudou-se as causas responsáveis pela emergência de uma polícia [4,5,6]. Em resumo: manter uma polícia é custoso e é vista pela comunidade como um bem comum. Um cidadão que não tenha um comportamento parasita mas que não contribua para o esforço de manter a polícia, passa a ser visto como um parasita de 2ª ordem, ao qual é adequado forçar certo tipo de punição. O que se verificou é que quando esta punição de 2ª ordem não é estabelecida, a polícia tende a dissolver-se (cada vez há menos pessoas a sustentá-la) e passa-se para um esquema de peer punishment onde a punição pelas próprias mãos passa a ser a norma. Quando a punição de 2ª ordem é imposta à comunidade, a pool punishment torna-se a estratégia dominante (resultando numa baixa percentagem de parasitas de 1ª e 2ª ordem).
Refs:
[1] Henrich et al., Costly Punishment Across Human Societies (2006)
[2] Fowler, Altruistic punishment and the origin of cooperation (2005)
[3] Boyd et al., The evolution of altruistic punishment (2002)
[4] de Silva et al., Freedom, enforcement, and the social dilemma of strong altruism (2009)
[5] Gürerk et al., The Competitive Advantage of Sanctioning Institution (2006)
[6] Hilbe et al., Incentives and opportunism: from the carrot to the stick (2010)
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