fevereiro 28, 2011

Asserções Sustentadas

Uma asserção universal (como "Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos", artº 1 da Declaração Universal dos Direitos Humanos) tem uma abrangência tal que deve ser sustentada quer por teses e argumentos válidos como por evidência concreta a seu favor. As asserções liberais defendidas por pessoas como John Locke, Adam Smith, Thomas Jefferson ou Stuart Mill possuem forte sustentação argumentativa nas vertentes filosófica, ética e económica. A complementar estas teses temos agora a experiência histórica e social do Século XX. Esta evidência é de tal modo forte que, hoje em dia, é difícil contrariá-la sem uma pesada componente ideológica (um eufemismo para cegueira cognitiva).

fevereiro 25, 2011

Resíduo

"The third-person methods of the natural sciences suffice to investigate consciousness as completely as any phenomenon in nature can be investigated, without significant residue. What is the import of “significant” here? Simply this: If scientists were to study a single grain of sand, there would always be more that could be discovered about it, no matter how long they worked. The sums of the attractive and repulsive forces between all the subatomic particles composing the atoms composing the grain will always have some residual uncertainty in the last significant digit we have calculated to date, and backtracking the location in space-time of the grain of sand over the eons will lead to a spreading cone of indiscernibility. But our ignorance will not be significant. The principle of diminishing returns applies. My claim is that if we use the third-person methods of science to study human consciousness, whatever residual ignorance we must acknowledge “at the end of the day” will be no more unsettling, no more frustrating or mystifying, than the ignorance that is ineliminable when we study photosynthesis, earthquakes, or grains of sand. In short, no good reasons have been advanced for the popular hypothesis that consciousness is, from the point of view of third-person science, a mystery in a way that other natural phenomena are not" - Daniel Dennett, Sweet Dreams

fevereiro 21, 2011

Adaptação Moral

O instinto moral do Homo Sapiens evoluiu tal como a sua capacidade para falar. Não é coincidência que tabus como o incesto, o canibalismo ou o assassinato são praticamente universais. Eles são uma expressão de como os nossos processos cognitivos evoluíram há centenas de milhar de anos. Esta estrutura comportamental básica é independente das crenças regionais das populações humanas. Todo o regulamento moral expresso numa dada cultura derivou deste conjunto inicial, gravado algures no nosso cérebro. Fazê-lo melhor, com menos erros e arbitrariedades, mais apropriado às complexidades e exigências das sociedades actuais é um projecto similar à obtenção de qualquer outro tipo de conhecimento. Neste caso, é uma tarefa da ética, das ciências cognitivas e da psicologia comportamental.

fevereiro 16, 2011

A Emergência da Polícia

Uma economia onde quem contribuí para a sociedade (via impostos e taxas, por exemplo) mas que não tenha um sistema de fiscalização, permite a invasão de elementos parasitas (free-riders) cuja estratégia é aproveitar-se do bem comum sem colaborar (e, assim, obter maiores ganhos). Desta forma, é natural que surjam esquemas de punição para coagir os elementos da comunidade a participar no esforço conjunto. Isto ocorre mesmo em comunidades pequenas, onde não existe um estado central que produz normas e fiscaliza o seu cumprimento. Experiências recentes feitas em laboratório mostram evidência que até em interacções anónimas (onde não existe reputação nem redes familiares que motivam e reforçam a colaboração) emerge naturalmente um esquema de punição que força, com sucesso, a colaboração média da comunidade. Este tipo de investigação vê a cooperação como um sinónimo de punição altruísta [1,2,3].

Existem dois esquemas básicos de punição: a vingança (termo técnico: peer punishment) e a polícia (pool punishment). Numa sociedade com poucos parasitas, a vingança é economicamente mais eficiente (manter uma polícia sai caro) mas é menos estável. Na maior parte dos casos reais, a polícia acaba sempre por emergir (exemplo: no Wild West um dos primeiros acordos comunitários numa nova cidade era atribuir a alguém os poderes de xerife).

Também em laboratório estudou-se as causas responsáveis pela emergência de uma polícia [4,5,6]. Em resumo: manter uma polícia é custoso e é vista pela comunidade como um bem comum. Um cidadão que não tenha um comportamento parasita mas que não contribua para o esforço de manter a polícia, passa a ser visto como um parasita de 2ª ordem, ao qual é adequado forçar certo tipo de punição. O que se verificou é que quando esta punição de 2ª ordem não é estabelecida, a polícia tende a dissolver-se (cada vez há menos pessoas a sustentá-la) e passa-se para um esquema de peer punishment onde a punição pelas próprias mãos passa a ser a norma. Quando a punição de 2ª ordem é imposta à comunidade, a pool punishment torna-se a estratégia dominante (resultando numa baixa percentagem de parasitas de 1ª e 2ª ordem).

Refs:

fevereiro 13, 2011

O mapa não é o território

O cérebro habita o território, a mente desenha e desenha-se nos mapas.

fevereiro 10, 2011

Muralhas

A burocracia promove a economia paralela. Ela cria uma muralha legal e financeira que impede pessoas e recursos de se inscreverem no mercado formal. A burocracia também promove a corrupção. Quando se força um labirinto, abre-se a possibilidade a muitos atalhos.

fevereiro 07, 2011

Experimentação

"The life of the Law has not been Logic, it has been experience" Oliver Wendell Holmes

fevereiro 04, 2011

Progresso

A complexidade progressiva das sociedades modernas torna irreversível a descentralização. Já não são opção o comité central, a agremiação de sábios ou a oligarquia dos influentes (apesar da sua existência persistir enquanto for lucrativo o respectivo roubo). A única opção que poderá restar ao movimento contrário é o eventual big brother cibernético, um suicídio de poder provavelmente não muito desejável.

fevereiro 02, 2011

"[...] many statistical results from scientific studies that showed great significance early in the analysis are less and less robust in later studies. For instance, a pharmaceutical company may release a new drug with great fanfare that showed extremely promising results in clinical trials, and then later, when numbers from its use in the general public trickle back, shows much smaller effects. Or a scientific observation of mate choice in swallows may first show a clear preference for symmetry, but as time passes and more species are examined or the same species is re-examined, the effect seems to fade.

This isn't surprising at all. It's what we expect, and there are many very good reasons for the shift.

  • Regression to the mean: As the number of data points increases, we expect the average values to regress to the true mean…and since often the initial work is done on the basis of promising early results, we expect more data to even out a fortuitously significant early outcome.

  • The file drawer effect: Results that are not significant are hard to publish, and end up stashed away in a cabinet. However, as a result becomes established, contrary results become more interesting and publishable.

  • Investigator bias: It's difficult to maintain scientific dispassion. We'd all love to see our hypotheses validated, so we tend to consciously or unconsciously select reseults that favor our views.

  • Commercial bias: Drug companies want to make money. They can make money off a placebo if there is some statistical support for it; there is certainly a bias towards exploiting statistical outliers for profit.

  • Population variance: Success in a well-defined subset of the population may lead to a bit of creep: if the drug helps this group with well-defined symptoms, maybe we should try it on this other group with marginal symptoms. And it doesn't…but those numbers will still be used in estimating its overall efficacy.

  • Simple chance: This is a hard one to get across to people, I've found. But if something is significant at the p=0.05 level, that still means that 1 in 20 experiments with a completely useless drug will still exhibit a significant effect.

  • Statistical fishing: I hate this one, and I see it all the time. The planned experiment revealed no significant results, so the data is pored over and any significant correlation is seized upon and published as if it was intended. See previous explanation. If the data set is complex enough, you'll always find a correlation somewhere, purely by chance.

[...] Yes, science is hard. Especially when you are dealing with extremely complex phenomena with multiple variables, it can be extremely difficult to demonstrate the validity of a hypothesis (I detest the word "prove" in science, which we don't do, and we know it; Lehrer should, too). What the decline effect demonstrates, when it occurs, is that just maybe the original hypothesis was wrong." P.Z.Myers, Science is not Dead, blog Pharyngula.