janeiro 27, 2010

Transição

Um indivíduo sem outros entra em perigo de dissipação. Cada mente está viciada pelos compromissos de uma cultura. Perder essa cultura é um passo perigoso e de difícil adaptação, só sendo mitigado se passar a interagir noutra cultura. Já uma cultura só existe na dinâmica dos seus elementos. Sem eles passa para o domínio do mito, da arqueologia, aproximada nas reconstruções artísticas e científicas de um eventual futuro. Até ao desaparecimento inevitável, todos, desde o individuo até à sociedade multicultural, sofrem momentos de depressão e crescimento, quedas e renascimentos, ajudas e violências interiores e exteriores, tédio e anomias. Para sobreviver-se a si mesma a pessoa pode deixar-se na memória dos outros, nos pensamentos que escreve, nas acções que comete. A cultura pode fazer história ou, de tempos em tempos, uma diáspora. Em nenhuma delas se fica na mesma.

1 comentário:

Ricardo Riobom disse...

Um indivíduo sem outros entra em perigo de dissipação. Mas até que ponto, numa construção linear e lógica daquilo que é o entendimento de uma identidade cultural, não será isso uma libertação de pré-determinismos absurdos? O vício legítimo é biológico, apenas. O resto, a "adaptação", a vontade de pertencer, de nos vermos reflectidos no outro, é mais uma alegoria da caverna. Somos sombras, mas somos. Mais vale ser sombra de nós mesmos do que sombra de uma concepção maior de algo que, apesar da percepção geral e aceitação de uma pluri-qualquer-coisa, pertence a outros. Outros sem nome! E na parede fria da caverna , puta que pariu a História!