Dogma
[...] 26Enquanto comiam, Jesus tomou o pão e, depois de pronunciar a bênção, partiu-o e deu-o aos seus discípulos, dizendo: «Tomai, comei: Isto é o meu corpo.» 27Em seguida, tomou um cálice, deu graças e entregou-lho, dizendo: «Bebei dele todos. 28Porque este é o meu sangue, sangue da Aliança, que vai ser derramado por muitos, para perdão dos pecados. [Mateus 26-28]
O milagre da transubstanciação, durante a Eucaristia, transforma o pão e o vinho na carne e no sangue de Cristo. Para além da dúbia vantagem na conversão de canibais e vampiros com poderes de abstracção, esta crença medieval causa, hoje, perplexidade à maioria das pessoas e poucos católicos a interpretam como literal (mas deveriam fazê-lo, segundo a ortodoxia). No entanto, no passado, ela tinha algum sentido porque se assumia que os objectos, como Aristóteles argumentara, possuíam propriedades secundárias (como a cor, o sabor ou a textura) mais uma substância primária que definia, essa sim, o objecto. Desta forma, durante a Eucaristia, o pão e o vinho manteriam as suas propriedades secundárias mudando apenas, de forma imperceptível aos sentidos, as suas substâncias passando a ser o corpo de Cristo. A Revolução Científica trouxe uma mudança da nossa perspectiva do Mundo, e a ontologia de Aristóteles tornou-se obsoleta com as descobertas e os argumentos dos últimos 400 anos. Mas a ortodoxia não muda (ou muda pouco). A transubstanciação é um desses ecos que persiste do passado, cada vez mais distorcido pela habitual e progressiva distância que os dogmas tendem a acumular com a realidade. [1]
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