fevereiro 05, 2009

Espelho (m)eu

O Dr. Spleen observa-se, dedicado, através do espelho que o surpreendeu naquele verso de porta. O opaco da sua face esconde um labirinto de imagens, sensações e desejos que tão bem reconhece apesar dessa erosão constante que é a memória. Entre as marés dos humores e as muralhas das certezas que paciente construiu, um fosso de quereres deixados, intenções falhadas, uma sequência de eus em putrefacção inodora. O que o liga ao passado? Que filtro o cortará para se refazer no futuro? No silêncio conquistado daquela casa de campo, onde apenas destoa, em vermelho disperso, o corpo do analista financeiro, e eliminados que estão agora os ruídos da civilização e a fúria material, a sua, pela perda da substancial conta suíça (somos desligados do mundo o quanto conseguimos, mas o dinheiro tem ligações complexas com o mais valioso dos recursos, o tempo) resta teimoso, no reflexo, o desafio perene e derradeiro de se continuar a ser.

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