maio 05, 2008

Permanência

Gritar-se inocente é, para todos os efeitos, o mesmo que afirmar falar-se verdade. A reiteração verbal de uma intenção, de outra frase, de um olhar até, não serve como mecanismo de garantia. Ela promove, aliás, uma subtil intuição de culpa. O Dr. Spleen também por isso (que uma convicção não é um edifício montado num alicerce de dogmas, mas sim o suster de uma rede cruzada de argumentos lógicos) acha inútil o exigir ao réu essa sua interpretação dos factos, tingida que está de uma parcialidade insuportável porque inevitável. Que Dabila esteja repetidamente focado no baço do industrial vinícola errado é um facto que não se reverte. Como recuperar a vítima de um equivoco? Se somos as acções que fazemos, como (e para quê?) permanecer no eu que perdemos a cada dia que passa?

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