X is-a Y
[«] Suponha-se um início de trânsito. Travo e paro o carro por ter outros à minha frente a bloquear o percurso. Mas o condutor atrás de mim faz sinais de luzes e gesticula a reclamar da minha acção (descartemos outras possíveis interpretações). Devo supô-lo estúpido? Ou agir com mais cautela e dizer, porque nunca o vi na vida, que agiu estupidamente naquele instante? Quando adjectivamos alguém, ou algo, qual a segurança na afirmação que fazemos? Dizer que X é Y é dizer que X age sempre como um Y? Ou que, dada uma mais ou menos longa lista de observações, se X efectuou (quase) sempre actos que se encaixam em Y, então afirmamos ser X um Y? Seja Y a estupidez. É isto dizer que um sábio (admitindo a sageza o oposto da estupidez) nunca comete actos estúpidos? Pelo menos nos adjectivos que ligamos às pessoas (estupidez, honestidade, obsessão, emotividade...) a catalogação deriva sempre da experiência acumulada sobre os comportamentos do sujeito e não sobre o maior ou menor entendimento da forma como o sujeito funciona internamente, cognitivamente. O nosso passado partilhado consiste, nesta perspectiva, num relatório de acções e reacções contextualizadas que nos cataloga nessa gigantesca lista de traços neutros, vícios e virtudes à qual nos encaixamos para definir, aos outros, «o que somos». Só que não somos 100% Y nem 100% não-Y. Temos dias. E temos uma personalidade, um «eu» resistente a mudanças - um cocktail homeostático de emoções e argumentos, arriscando uma metáfora cibernética - que age em correlação ao ideal Y com que se filtra o olhar. Poderá esta narrativa ajudar(-nos) quando X for uma computação e Y o ser-se consciente?
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