outubro 08, 2007

Fronteira

A arte é o que fica entre uma leitura do mundo e a sua estupefacção. A arte também é o jogo do talento e do esforço, do horror de quem se olha ao espelho e vê o banal. É luta, um suor provocado, o pouco que permanece dessa espuma que é o passado. E, provavelmente, a arte não é nada disto. O Dr. Spleen, na metade sua que se reconhece artista, está habituado a estas contradições (na verdade, o Dr. Spleen, pela força do tédio decorrido dos dias quentes de Verão onde, por decisão pessoal, se encontra encerrado na rotina dos seus vícios caseiros, mais do que um hábito, é um motivo de satisfação quando se lhe depara uma inconsistência, um paradoxo, um, mesmo que pequeno, reflexo de infinito) e vê nelas a possibilidade de caminhos até aí escondidos e por percorrer. Não tanto (ou ainda) como o explorador que, a cada travessia, já só se revê nos mesmos passos repetidos, procurando nas caras novas apenas os vizinhos que deixou, mas sim como o cirurgião que, conhecendo a totalidade do comum ao corpo humano, se excitasse ao dissecar o resto putrefacto de uma qualquer mutação inédita.

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