Limites III
[«] A segunda possibilidade de debater os limites superiores da cognição refere-se ao advento da Inteligência Artificial. Esta situação é considerada por muitos como impossível, mas pode mesmo assim ocorrer nas próximas décadas (e há mais hipóteses para além do Blade Runner de Dick/Scott ou do HAL de Clarke/Kubrick). Dificilmente haverá um momento que marque o nascimento das primeiras mentes artificiais. Haverá - se formos capazes de o fazer - uma gradação suave no aumento de capacidades algorítmicas (por exemplo, tão inteligente como uma mosca, um lagarto, um rato, um macaco...). Há argumentos que desconfiam das capacidades da computação formal. Há aqueles - como Roger Penrose - que estipulam à mente a existência necessária de fenómenos físicos não simuláveis (e que têm caído sobre a força de contra-argumentação convincente - mas nunca será cedo para se estar confiante no resultado de um qualquer processo dialético). Outros - creio que John Searle se incluiria neste grupo - que não aceitam que uma sequência bem definida de passos simbólicos possa resultar nas aparentes (e este aparente é meu) capacidades de intuição e imaginação humana que somos capazes de produzir com relativa facilidade. Para além da questão da aproximação que referi antes e à qual voltaremos brevemente, tento pensar neste problema da seguinte forma: o que me garante que o «Outro» é consciente, racional, enfim, uma pessoa (usando pessoa com o significado que os detractores da IA (p)referem, i.e., com um algo mais quase dualista que não se encontra nem simula)? Não será esse outro o resultado de um qualquer «algoritmo molhado», um dos evento s emergentes da interacção complexa entre biliões de neurónios e correntes eléctricas? Para todos os efeitos, também não tenho acesso nem conhecimento aos meus processos cognitivos. Quem garante que eu seja uma dessas pessoas? Não podemos esperar a compreensão dos actos cognitivos pela Ciência para nos considerarmos e agirmos e tomarmos juízos enquanto agentes morais, políticos, etc. Isto significa que, de certo modo, confiamos no comportamento complexo que exibimos diariamente para classificar como especial as nossas capacidades. Vêmo-nos como caixas pretas ou quase (se levarmos em conta os resultados conseguidos pela psicologia ou pela neurologia, só para dar dois exemplos). Porque pressupor um modelo mais rígido que este para analisar o comportamento de um programa?
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