março 16, 2007

Equilibrio

Na questão dos deveres e direitos, onde termina o Estado e começa o indivíduo? Eu prefiro uma posição de máxima liberdade e máxima responsabilidade mas isso não significa liberdade ilimitada e responsabilidade ilimitada. Este posição tem argumentos éticos: a minha liberdade termina onde começa a do vizinho. Argumentos sociais: o exército, a diplomacia, a segurança e a justiça, por exemplo, têm de pertencer ao Estado que, deste modo, detém os monopólios da violência, da manutenção da legalidade e da representação internacional que seriam instáveis num cenário privatizado. Argumentos económicos: há esforços financeiros que têm melhor resultado ou, pelo menos, só são possíveis pelo esforço conjunto da sociedade, como obras estruturais sem possibilidade de retorno financeiro, grandes projectos científicos, um serviço mínimo de protecção social, educativa e de saúde. De resto, porque deve o Estado coibir a liberdade e as escolhas individuais? Porque deverá impor regulamentos morais, criar crimes sem vítimas, desenhar fronteiras arbitrárias? Submergir cada actividade profissional num palimpsesto burocrático de directivas e restrições? Porquê forçar-nos a tomar atitudes supostamente para o nosso próprio bem? Ensinar a todos a mesma coisa do mesmo modo, exigir às famílias a mesma educação formatada? A infantilização de uma sociedade resulta num maior sentimento de irresponsabilidade que pode, a longo prazo, destruir a dinâmica dessa sociedade e, assim, o próprio Estado que a representa. Uma maior confiança em cada individuo dá-nos, idealmente, uma maior capacidade de reseliência. É verdade que muitos poderão abusar do possível maior que lhes é disposto mas torna-se, também, mais difícil abusar de todos pela resistência que irão encontrar na multidão de milhões de adultos com espírito crítico. Se me permitem uma metáfora de contágio, um Estado centralizado dificulta o aparecer de infecções locais mas facilita perigosamente as epidemias.

1 comentário:

Isabela Figueiredo disse...

Não sei, não sei. Tenho algumas dificuldades em concordar com a tese do estado liberal. Se pretendemos algum equilíbrio ideal, e o termo ideal é aqui importante, penso que o estado centralizador garante o exercício de mais liberdades. Um estado forte não nos desresponsabiliza. Idealmente, não. A liberalização é tão perigosa na mão dos indivíduos, tanto, que em última análise pode mesmo obrigar-nos a trabalhar de graça e sem direitos alguns, que é, na prática, o que já acontece.