Duas medidas
Os preconceitos são, pelo menos, de dois tipos: os que construímos e os que nos são dados. Os nossos derivam da experiência pessoal e, em geral quando não contaminados por outros preconceitos, possuem correlação positiva com a realidade. Sem eles não poderiamos viver num mundo repleto de eventos perigosos mesmo que filtrados pela capa protectora e uniformizante da sociedade. Os outros preconceitos, porém, não lhes controlamos o desenvolvimento. São derivados por um processo histórico e social tortuoso, velam por interesses que os originaram e que, hoje em dia, podem já nem fazer sentido. Estes preconceitos, também pelo seu percurso comunitário e geracional, tendem a generalizar mais do que faríamos sozinhos, e nessa generalização - que rasga como inútil a experiência pessoal dos seus seguidores - existe contida uma simplificação da realidade, não uma correspondência útil mas um restringir da nossa capacidade de avaliar casos particulares. Isto tem duas consequências igualmente nefastas. Primeiro, cada preconceito deste tipo tem como preço tornar, cada um, um pouco menos pessoa: alguém que cegamente segue um regulamento moral que lhe tolda o espírito crítico paga um preço muito elevado. Segundo, nisto resulta que julgamos pessoas, eventos ou locais por olhos que não os nossos. Agimos com convicções que vão, por vezes, contra o nosso próprio bom senso. Construímos muralhas onde não há guerras, substituímos pontes por fossos, um possível de amizade por uma certeza de desprezo. Além disso, mesmo que fosse um facto que um grupo ou um conjunto era melhor, maior ou mais atraente que outro, nunca poderemos julgar e agir sobre cada pessoa como se fosse a personificação de uma estatística. É um facto inegável que as médias não são instâncias.
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