janeiro 22, 2007

Confronto

O Doutor Spleen e o televisor. Entre estes dois titãs um recear projectado. O objecto em si, tão parecido com um abat-jour, é o arauto de uma terraplanagem de ideias capaz de corar uma bomba atómica. Atravessando a uniformidade electromagnética do espaço, na frequência dada de um canal, passa a rota invisível de pequenos circos de ondas transmutadas, por frenéticos feixes de electrões, na sopa de cores e ruído que se designa canal de televisão. Os efeitos, tanto do espectador directo como no contágio posterior destes com as restantes formas de vida, espalham-se insidiosamente pelo que sobra. Ouvem-se risos. Muitos risos a polvilhar emissões de vinte e quatro horas de estupidez reinante, mudando o ambiente para que outros estúpidos melhor se adaptem e assim espalhem os seus dejectos autorais no ecossistema plástico das ideias humanas. Mas todo o mecanismo, segundo Spleen, parece desprovido da estupidez que emite e é nisso, nesse intuir subtil de uma tendência quase invisível, que o receio, raro nele, se expõe.

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