outubro 07, 2006

Proveniência

Fora de nós, o vazio. Fora do silêncio, um ruído infinito. São passos de gente lá fora que impede o sono de chegar. Não. Não são os passos. É um mundo que se força ao Mundo e do qual não se admite fuga e nessa impotência a insónia. Quem seríamos sem os outros? Os actos são respostas à dinâmica que nos envolve e define, os gestos que nos classificam, o rosto nosso construído. O Dr. Spleen jaz uma vez mais no colchão húmido de um meio de dia. É um outro Verão que começa, os ritmos dos corpos que se mostram, um suor que atravessa a multidão no limiar do fétido. No lento das horas imagina o deserto. Um amarelo arenoso sem limites, sem barulho, sem o vento humano das cidades, culturas, civilizações. E no seio desse deserto apenas um corpo, seu, a caminhar sem direcção. Por quanto tempo duraria a satisfação de se saber sozinho? Quão presos estamos aos vícios que os estranhos tão bem alimentam?

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