outubro 16, 2006

Procura

Há semelhanças entre algumas possibilidades teóricas e certas impossibilidades práticas. Por exemplo, o Doutor Spleen admite a possibilidade à priori de existir alguém que suporte um nível ilimitado de dor, que mantenha a coerência moral perante qualquer inundar de contexto que acompanha certos momentos. Porém, dadas as restrições da bioquímica, da aprendizagem social e da influência esmagadora das pressões que, como cogumelos, habitam nos interstícios desse queijo suíço que é a cultura, seria, na prática, uma quimera pretender encontrar ou defrontar uma pessoa assim. Já Dabila não se preocupa com a força aplicada nos seus punhos perante uma tão clara instância do exemplo descrito (e que se cristaliza neste prolongar de tempo oferecido ao silêncio das palavras). Nada na sala húmida e relativamente escura se altera, nem quem devia falar nem quem o deveria fazer falar. Do lado do primeiro, Spleen procura, atento, algo que mostre ser esta a confirmação que até agora lhe escapara. No lado do segundo, a indiferença explica-se porque a ignorância sempre passou ao lado de argumentos subtis.

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