abril 03, 2006

Redução

Uma foto não é só um retrato de um instante perdido. Não é somente um possível, uma visão de um lugar cumprido. É também um constatar de duas distâncias, uma temporal que nunca se recupera e uma de espaço entre o olhar e o conjunto que se retrata. O Doutor Spleen permite-se ao prazer autêntico das boas fotografias. Por vezes, meras reproduções de astronomia (que mesmo as falsas cores ou o contraste exagerado não alteram em nada a diferença entre a imagem e a verdadeira dimensão do real), por vezes paisagens moralmente neutras de mar ou terra, por vezes ângulos e partes de corpos estruturados nessa ajuda da iluminação profissional. Nestes últimos, o Doutor Spleen sabe que a separação entre a pessoa que se expõe e o expositor que nele existe é transponível sob o custo de um limitado esforço. Algumas vezes a atravessou para tocar esse mesmo corpo tornando-o, no processo, objecto de outros gostos. Algumas vezes mas poucas. Porque uma distância sempre reduzida deixa de ser distância.

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