novembro 08, 2005

A sobrevivência da política (parte VI)

É difícil exagerar o alcance e significado desta transformação. Como foi atingido? A resposta geral é que o julgamento público não só catalogou o que é independente como egoísta, como focou o sofrimento dos pobres e dependentes como uma directiva moral dos nossos arranjos sociais. Até há pouco, os pobres não foram politicamente significantes. Mas no decorrer do século XIX, quando o sufrágio se generalizou, o cuidado social tornou-se tão relevante como antigamente a guerra o fora. Como os inimigos de outrora, os desfavorecidos tornaram-se politicamente interessantes porque constituíam uma razão para exercer poderes de governação e administração não aceites noutras situações. Eles tornaram-se tão interessantes que não se devia fazê-los desaparecer facilmente, e assim, há medida que as condições de vida aumentavam, as definições de pobreza foram-se actualizando para manter o seu número num nível adequado.

Foi desta forma que o estado do século XX descobriu a dependência, que anteriormente não tinha ocupado mais que uma pequena porção da esfera da moralidade. Uma virtude moral, a caridade, na sua forma politizada, expandiu-se para abranger a esfera política. Isto foi um desenvolvimento importante por diversas razões. Uma delas é que a dependência revela a direcção do pensamento religioso. Na essência do cristianismo, todos somos criaturas dependentes de deus. Agora, a nossa dependência é com a sociedade. Em termos marxistas, o indivíduo burguês (aquele que sofre da ilusão de ter subido por si só) corresponde, em termos cristãos, ao pecado do orgulho: ele coloca-se em vez de deus (ou da sociedade) no centro do universo. O ideal é todos contribuirmos altruisticamente para a sociedade, dela recebendo saúde, educação e outros serviços distribuídos por igual a todos os cidadãos.

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