setembro 09, 2005

Criacionismo

Na Antiguidade, Empédocles defendeu ser a matéria constituída por quatro elementos (terra/água/ar/fogo) juntos e separados por duas forças opostas (amor/conflito). O equilíbrio único destes elementos determinava a natureza de cada objecto, como seria de esperar. O interessante é que o filósofo defendia que a formação/desagregação, o resultado da interacção entre o amor e o conflito, era fundamentalmente um produto do acaso. Ora se um objecto mais apto que outro se definir pela sua resistência à dissolução, não é difícil imaginar aqui um rudimento de selecção natural. Por outro lado, Empédocles retira significado ao Universo (se a mudança que precede a criação/destruição é uma acção acidental, qual o papel dos deuses?). Aristóteles percebeu isto e, apesar de concordar com o princípio, corrigiu o seu antecessor dizendo que o processo não era um resultado de um destino acéfalo mas sim de um desenho propositado. Com esta alteração pretendia corrigir a impiedade da teoria e repor a divindade no seu papel principal.

Vinte e três séculos depois, Darwin elaborou esta ideia (não sei se alguma vez leu sobre Empédocles ou, lendo, se fez algum paralelo significativo), dando-lhe um cunho científico e iniciando uma revolução de mentalidades com poucos paralelos na História. Hoje em dia, 150 anos depois, personalidades do Criacionismo admitem a existência de evolução mas recusam a componente aleatória subjacente ao processo de selecção natural. Dizem que estes mecanismos (como a mutação genética) são resultado da intervenção divina (leia-se, de um desenho inteligente). Ring a Bell?

Ps: A versão inicial do Criacionismo (a terra tinha pouco mais de seis milénios e os dados que invalidavam esta ideia – como os fósseis – eram apenas provas de fé plantadas por Deus) era patética. Esta nova interpretação, ao substituir cirurgicamente a selecção natural pelo desenho inteligente é coerente, apesar de não existir qualquer dado empírico nesse sentido (a fé não se alimenta de informação científica). Este é um adversário muito mais resistente e perigoso.

Este post e o anterior são contributos ao trabalho do pessoal do Diário Ateísta.

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