Botões Políticos (parte III)
Thomas Sowell no seu livro "Um Conflito de Visões" identifica um factor que permite explicar (não completamente mas em grande parte) a existência das crenças nucleares que opõem direita e esquerda. Sowell mostra duas visões da natureza humana, designadas aqui por visão utópica e visão trágica.
- Na visão trágica os humanos são intrinsecamente limitados no seu conhecimento, sabedoria e virtude; e todos os acordos sociais têm de levar este facto em conta. Esta visão é associada a Hobbes, Edmund Burke, Adam Smith, Friedrich Hayek, Milton Friedman, Isaiah Berlin e Karl Popper, entre outros.
- Na visão utópica, as limitações psicológicas são artefactos que provêm dos arranjos sociais onde nos inserimos, e não devem ser tomados em conta quando planeamos o futuro. Esta visão é associada a Rousseau, William Godwin, Thomas Paine, John Kenneth Galbraith e Ronald Dworkin, entre outros.
Na visão trágica, os sentimentos morais (por melhores que sejam) cobrem uma camada mais profunda de egoísmo. Este egoísmo não é necessariamente cruel ou violento, mas sim uma preocupação do nosso bem-estar tão forte que raramente pensamos nela ou nos recriminamos por ser assim. A natureza humana não muda. Tradições, como a religião, a família, os costumes sociais, são uma destilação de técnicas repetidamente testadas com sucesso ao longo dos séculos que nos permitem viver mais ou menos bem com os nossos defeitos. Na generalidade, são aplicáveis hoje como o foram há milénios, apesar de ninguém saber explicar convenientemente porquê. Por mais imperfeita que seja, devemos comparar a nossa sociedade com as que existiram no passado e não com qualquer uma imaginada para o futuro. Felizmente, a sociedade funciona mais ou menos bem e devemos tentar mantê-la assim, porque a natureza humana pode, a qualquer oportunidade, levá-la para o abismo. Como ninguém tem a inteligência de prever sequer o comportamento de um só ser humano, ainda menos a dinâmica de uma população, devemos desconfiar de qualquer fórmula que venha de cima para tentar alterar a sociedade já que é provável que surjam consequências mais nefastas que a eventual resolução dos problemas que se promete corrigir. O melhor que se pode esperar são pequenos passos graduais constantemente corrigidos por periódicas avaliações dos sucessos e dos fracassos. Isto também implica que não devemos procurar resolver totalmente problemas sociais como o crime ou a pobreza, porque num mundo de competição o ganho de uma pessoa é a perda de outra. O melhor que podemos fazer é gerir os diferentes meios ao nosso dispor de forma a minimizar os problemas que consideramos mais importantes. [cont.]
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