Violência (parte III)
O primeiro passo para se entender a violência é colocar de lado a nossa repulsa pelo conceito o tempo suficiente para examinar como e quando o seu uso traz vantagens em termos individuais e evolutivos. Para isto é necessário inverter o problema – não tentar explicar porque a violência ocorre – mas sim porque é evitada. A moralidade não entrou no Universo com o Big Bang, permeando-o como radiação de fundo. Ela foi descoberta pelos nossos antepassados após biliões de anos de um processo moralmente indiferente chamado selecção natural.
A selecção natural é impulsionada pela competição, o que significa que os produtos da selecção natural – máquinas de sobrevivência usando a metáfora de Richard Dawkins – devem, por defeito, fazer o que for preciso para sobreviverem e se reproduzirem. Se um obstáculo surge no caminho, ele deve ser neutralizado ou eliminado. Para um indivíduo, estes obstáculos podem incluir outros indivíduos, por exemplo, alguém que monopolize recursos essenciais como terra ou comida. Esta visão cínica pode não parecer verdade porque não estamos habituados a ver os outros como meros elementos do exterior que possam ser neutralizados como erva daninha. A não ser que sejamos psicopatas, nós simpatizamos com os outros e não os vemos como obstáculos ou presas. Esta simpatia, porém, não tem prevenido um sem número de atrocidades ao longo da história. A contradição pode talvez ser resolvida se assumirmos que as pessoas possuem um "círculo moral" que as faz incluir não toda a humanidade, mas apenas membros do seu clã, vila ou tribo. Dentro do círculo, as pessoas são alvos de simpatia, fora do círculo apenas elementos externos como rochas, rios ou animais.
Esta observação que as pessoas podem ser moralmente indiferentes a quem esteja fora do círculo moral sugere de imediato uma possibilidade para a redução da violência: entender a psicologia deste mecanismo de forma a alargá-lo a toda a Humanidade. Este alargamento parece estar a ocorrer ao longo dos últimos milénios, motivado pelo constante crescimento das redes de reciprocidade entre as diferentes culturas, tornando cada mais pessoas mais úteis vivas que mortas. Este processo é ajudado pela tecnologia que facilita o acesso à literatura estrangeira, às viagens, ao conhecimento da História e da Arte que ajuda a projectar-nos nas vidas daqueles que no passado foram inimigos mortais. [cont.]
A selecção natural é impulsionada pela competição, o que significa que os produtos da selecção natural – máquinas de sobrevivência usando a metáfora de Richard Dawkins – devem, por defeito, fazer o que for preciso para sobreviverem e se reproduzirem. Se um obstáculo surge no caminho, ele deve ser neutralizado ou eliminado. Para um indivíduo, estes obstáculos podem incluir outros indivíduos, por exemplo, alguém que monopolize recursos essenciais como terra ou comida. Esta visão cínica pode não parecer verdade porque não estamos habituados a ver os outros como meros elementos do exterior que possam ser neutralizados como erva daninha. A não ser que sejamos psicopatas, nós simpatizamos com os outros e não os vemos como obstáculos ou presas. Esta simpatia, porém, não tem prevenido um sem número de atrocidades ao longo da história. A contradição pode talvez ser resolvida se assumirmos que as pessoas possuem um "círculo moral" que as faz incluir não toda a humanidade, mas apenas membros do seu clã, vila ou tribo. Dentro do círculo, as pessoas são alvos de simpatia, fora do círculo apenas elementos externos como rochas, rios ou animais.
Esta observação que as pessoas podem ser moralmente indiferentes a quem esteja fora do círculo moral sugere de imediato uma possibilidade para a redução da violência: entender a psicologia deste mecanismo de forma a alargá-lo a toda a Humanidade. Este alargamento parece estar a ocorrer ao longo dos últimos milénios, motivado pelo constante crescimento das redes de reciprocidade entre as diferentes culturas, tornando cada mais pessoas mais úteis vivas que mortas. Este processo é ajudado pela tecnologia que facilita o acesso à literatura estrangeira, às viagens, ao conhecimento da História e da Arte que ajuda a projectar-nos nas vidas daqueles que no passado foram inimigos mortais. [cont.]
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