fevereiro 21, 2005

Violência (última parte)

Mas o círculo pode diminuir. Muitas atrocidades são acompanhadas por tácticas de desumanização como o uso sistemático de nomes pejorativos, condições degradantes ou vestes humilhantes. Estas tácticas alteram a perspectiva individual transformando pessoas em 'não-pessoas'. Isto facilita a proliferação da tortura ou do assassínio sem que surjam dilemas morais da parte dos agressores.

O psicólogo social Philip Zimbardo mostrou que estes mecanismos podem ser efectivos mesmo com estudantes universitários. Zimbardo criou uma prisão simulada numa cave da Universidade de Stanford. Aleatoriamente, seleccionou estudantes para os papéis de guardas e prisioneiros. Os 'prisioneiros' usavam vestimentas degradantes, grilhetas e outros acessórios sendo referidos não por nome mas por um número. Rapidamente, os 'guardas' começaram a abusar da sua posição, brutalizando-os – obrigavam-nos a fazer flexões colocando-se nas suas costas, molhavam-nos com extintores, obrigavam-nos a limpar retretes só com as mãos – de tal modo que Zimbardo teve de terminar as experiências com medo da segurança física dos 'prisioneiros'!

Na outra direcção, o círculo pode aumentar pela observação de algum sinal de humanidade da parte da vítima. George Orwell, aquando da sua experiência na guerra civil espanhola, disse um dia ter um soldado inimigo na sua mira, e só não disparou porque este corria enquanto segurava as calças com as mãos. "Não o matei pelo detalhe das calças. Tinha vindo para matar Fascistas, mas um homem que segura as próprias calças não é um ‘Fascista’, ele é um semelhante como um de nós.". Claro que não nos devemos iludir com este exemplo (Orwell foi um das principais vozes morais do século XX). As pessoas são capazes de colocar desconhecidos dentro do seu círculo moral, mas provavelmente, o comportamento por defeito é deixá-los de fora.

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