Violência (parte I)
(adaptado do capítulo 17 do livro de Steven Pinker – The Blank Slate)
Existem muitas razões para acreditar que a violência humana não é uma doença ou um desvio mas sim parte do nosso desenho. Antes de as apresentar, deixem-me dissipar dois medos:
Existem muitas razões para acreditar que a violência humana não é uma doença ou um desvio mas sim parte do nosso desenho. Antes de as apresentar, deixem-me dissipar dois medos:
O primeiro medo é que uma análise destas se limite a reduzir a violência a genes “maus” dos indivíduos violentos, com a temida implicação de existir uma correlação com determinadas étnias. Há poucas dúvidas que certas pessoas têm uma maior tendência violenta que outras. Os homens são um bom exemplo. Através das culturas, a taxa de homens a matar homens é de vinte a quarenta vezes superior que a taxa de mulheres a matar mulheres. Os psicólogos encontram padrões de personalidade em muitos indivíduos violentos: tendem a ser impulsivos, possuem baixa inteligência, são hiperactivos e têm problemas de atenção. São descritos como tendo um temperamento oposicional: vingativos, enfurecem-se facilmente, são resistentes ao controlo, deliberadamente incómodos, com tendência para culpar os outros. Mas o que pretendo defender é que este não é o principal factor de violência. Há guerras que começam e terminam, há flutuações das taxas de criminalidade, as sociedades militares passam a pacifistas ou vice-versa, tudo em pouco mais de uma geração, ou seja, sem alterações do património genético dessas sociedades. Apesar de existir variações nas taxas de criminalidade nos diferentes grupos étnicos, isso não significa que haja uma explicação genética, dado que a taxa de um grupo pode ser igual à taxa de outro grupo noutro momento do passado. Os pacíficos escandinavos tiveram como antepassados os Vikings. A violência em Africa pós-colonialista é similar à da Europa após a queda do Império Romano. Qualquer grupo étnico actual, para ainda existir, teve provavelmente alguns antepassados agressivos.
O segundo medo é que pessoas com tendências violentas não são capazes de se controlar, ou que são violentas constantemente. De facto, se o cérebro está preparado para usar estratégias violentas, estas estratégias são contingentes, ligadas a processos complexos que determinam quando devem ser utilizadas. Os animais utilizam a violência de forma altamente selectiva. Os humanos são ainda mais calculistas. A maioria das pessoas passa a sua vida adulta sem premir os seus botões de agressividade. [cont.]
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