As memórias de Adriano
As Memórias de Adriano da escritora Marguerite Yourcenar é uma longa e última carta do Imperador Adriano ao neto adoptivo Marco Aurélio, sobre a sua vida (que agora termina) e a do Império que procurou pôr ao serviço dos homens. É impressionante o exercício de reflexão, de literatura que este livro encerra, quase nos fazendo esquecer que também é uma ficção. Um pequeno excerto:
O futuro do mundo já não me inquieta; já não me esforço por calcular, com angústia, a duração mais ou menos longa da paz romana; entrego isso aos deuses. Não é porque passasse a ter mais sabedoria do homem; a verdade é ao contrário. A vida é atroz; sabemos isso. Mas precisamente por espero pouco da condição humana, os períodos de felicidade, os progressos parciais, os esforços de recomeço e continuidade parecem-me outros tantos prodígios que compensam quase a massa enorme dos males, dos fracassos, da incúria e do erro. Hão-de vir as catástrofes e as ruínas; a desordem triunfará, mas também a ordem, por vezes. A paz instalar-se-á de novo entre dois períodos de guerra; as palavras liberdade, humanidade, justiça reencontrarão aqui e ali o sentido que temos tentado dar-lhes.
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