dezembro 28, 2004

Requisitos

Idolatrar é um verbo que precisa de: (i) um sujeito com necessidades urgentes mas com preguiça ou impossibilidade de as satisfazer sozinho; (ii) um complemento directo que seja, ao mesmo tempo, ubíquo e distante (parece difícil mas não é); (iii) um complemento indirecto suficientemente luminoso/barulhento/impressionante que nos convença ser a multidão sinónimo de verdade.

dezembro 23, 2004

Troca

Cada expressão carrega consigo uma perda. Aquilo que alguém diz (num livro, num quadro, numa canção, numa frase pública) passa a ser tanto seu como nosso.

dezembro 21, 2004

Saída lateral

Se uma afirmação num homem de palavra é um contrato, palavras como 'quase' são a respectiva letra miudinha.

dezembro 20, 2004

Convergência III

Seja a ideologia lapidada de um partido, envernizada no conformismo dos seus seguidores. A que distância se encontra da fé legislada de uma Roma?

dezembro 17, 2004

Porquês

Há um verbo para o acto de mentir. No entanto, não existe um para o acto de dizer a verdade.

dezembro 16, 2004

Participação

No Universo cada evento é um ponto do seu construir. Na tua breve vida participas em alguns mesmo que não o queiras nem saibas. E é tudo.

dezembro 14, 2004

Pós-M

(Traduzido do livro Straw Dogs de John Gray)

Os pós-modernos dizem não existir o conceito de Natureza, mas apenas o mundo flutuante das nossas próprias construções. Tudo relacionado com a natureza humana é recusado como dogmático e reaccionário. Vamos colocar esses falsos absolutos de lado, dizem os pós-modernistas, e aceitar que o Mundo é o que dele fazemos.

Os pós-modernos mostram o seu relativismo como um tipo superior de humildade - a modesta aceitação que nunca poderemos afirmar ter a verdade. De facto, a negação pós-moderna da verdade é o pior caso de arrogância. Ao negar que o mundo natural existe independentemente das nossas crenças sobre ele, os pós-modernos estão implicitamente a rejeitar qualquer limite às ambições humanas. Ao tornar as nossas crenças o árbitro final da realidade, estão efectivamente a afirmar que nada existe a não ser através da nossa consciência.

A ideia que não existe tal coisa como a verdade pode estar na moda, mas não é novo. Dois mil e quinhentos anos atrás, Protágoras, o primeiro dos sofistas Gregos, declarou o "Homem como medida de todas as coisas". Ele queria dizer o indivíduo humano não a espécie, mas as implicações são as mesmas. Os humanos decidem o que é real e o que não é. O pós-modernismo é apenas a mais recente variação do antropocentrismo.

dezembro 13, 2004

Livre Arbítrio

Não somos nós a escolher as voltas que a vida dá. No máximo, tentamos não escorregar nas curvas mais apertadas.

dezembro 10, 2004

Diferenças

Para um monoteísta, o Universo tem um sentido: é a misteriosa estória escrita por deus. Para quase todos os outros não há significado para além do que se constrói individual ou culturalmente. Mas o mistério apenas é uma máscara sem rosto. A diferença, assim, talvez não seja tão grande.

dezembro 09, 2004

Ficção vs. Realidade

Autor desconhecido (para mim)
Claro, a ficção tem as suas armas...

dezembro 07, 2004

Realidade vs. Ficção

Marrocos, Agosto 2004
Ainda há quem diga ser a ficção mais estranha que a realidade

dezembro 06, 2004

Oposição

Os opostos vivem um do outro. Como ter dúvidas num mundo sem certezas, ser livre sem preconceitos, hesitar sem abismos?

dezembro 02, 2004

Perspectiva 4D

"Um individuo é um objecto tetradimensional muito alongado; em linguagem comum dizemos que tem considerável extensão no Tempo e insignificante extensão no Espaço." - Eddington, Space, Time and Gravitation