Pontos na paisagem virtual (parte II)
Um destes pontos é o IRC (internet relay chat). O original foi desenhado pelo filândes Jakko Oikarinen, em 1988. É um sistema cliente-servidor, os clientes são conectados via internet a um servidor que gere a comunicação. Para evitar excesso de utilizadores num mesmo espaço, o conceito de canal permite a interação em locais temáticos, sem interferir nos outros canais. São espaços abertos a qualquer interacção e auto-representação.
Sendo seres sociais, lemos e interpretamos signos, somos capazes de condensar conceitos complexos em simples gestos. Sorrisos, tons de voz, posturas, modas dizem-nos mais do contexto social onde estamos inseridos do que simples afirmações textuais. As palavras, em si, são metade da estória. No IRC, apenas lidamos com palavras. Não é possível utilizar convenções de gestos, tons de voz para complementar a comunicação (há porém o rascunho que são os e-motes, como :-). Existe assim, uma diminuição (pelo menos à partida) das normas da comunicação. As implicações: (a) inexistência de mecanismos reguladores que se baseiam em atitudes não verbais (não entendemos se estamos a entediar ou a interessar o outro); (b) a máscara social é apenas verbal, o que se traduz numa incapacidade do indivíduo em construir uma personalidade verdadeiramente diferente da sua (revejam o Cyrano de Bergerac); (c) há menos pistas sobre a dinâmica da conversa, os equívocos são mais frequentes, promovendo comportamentos padrão menos profundos para evitar esses efeitos.
Ao mesmo tempo, a limitação do canal permite criar identidades alternativas. A possibilidade de mudar o sexo, o corpo, a idade, as crenças, cria uma interacção com poucas regras conhecidas ou partilhadas. A mente sai de um corpo preso a uma cultura socialmente mais uniformizante. É-se desinibido, as fronteiras do aceitável ou inaceitável tornam-se difusas. Tratamos estranhos de forma muito diferente da vida real. O lado positivo é aproximar pessoas que partilham interesses implícitos ao canal em que se encontram. O lado negativo é a incapacidade de evitar violência verbal, comportamentos infantis, de criar uma coesão de grupo porque os actos têm associada pouca responsabilidade. A marginalização ou expulsão referem-se a um avatar, não a uma pessoa. Expulso, o indivíduo é capaz de voltar noutra identidade rapidamente fabricada. O geografia do IRC pode ser virtual mas as emoções que nele se intersectam são reais. Não se trata só de um jogo de palavras mas onde se tomam decisões por vezes sérias e com consequências.
Sendo seres sociais, lemos e interpretamos signos, somos capazes de condensar conceitos complexos em simples gestos. Sorrisos, tons de voz, posturas, modas dizem-nos mais do contexto social onde estamos inseridos do que simples afirmações textuais. As palavras, em si, são metade da estória. No IRC, apenas lidamos com palavras. Não é possível utilizar convenções de gestos, tons de voz para complementar a comunicação (há porém o rascunho que são os e-motes, como :-). Existe assim, uma diminuição (pelo menos à partida) das normas da comunicação. As implicações: (a) inexistência de mecanismos reguladores que se baseiam em atitudes não verbais (não entendemos se estamos a entediar ou a interessar o outro); (b) a máscara social é apenas verbal, o que se traduz numa incapacidade do indivíduo em construir uma personalidade verdadeiramente diferente da sua (revejam o Cyrano de Bergerac); (c) há menos pistas sobre a dinâmica da conversa, os equívocos são mais frequentes, promovendo comportamentos padrão menos profundos para evitar esses efeitos.
Ao mesmo tempo, a limitação do canal permite criar identidades alternativas. A possibilidade de mudar o sexo, o corpo, a idade, as crenças, cria uma interacção com poucas regras conhecidas ou partilhadas. A mente sai de um corpo preso a uma cultura socialmente mais uniformizante. É-se desinibido, as fronteiras do aceitável ou inaceitável tornam-se difusas. Tratamos estranhos de forma muito diferente da vida real. O lado positivo é aproximar pessoas que partilham interesses implícitos ao canal em que se encontram. O lado negativo é a incapacidade de evitar violência verbal, comportamentos infantis, de criar uma coesão de grupo porque os actos têm associada pouca responsabilidade. A marginalização ou expulsão referem-se a um avatar, não a uma pessoa. Expulso, o indivíduo é capaz de voltar noutra identidade rapidamente fabricada. O geografia do IRC pode ser virtual mas as emoções que nele se intersectam são reais. Não se trata só de um jogo de palavras mas onde se tomam decisões por vezes sérias e com consequências.
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