O Barco dos Loucos
A Renascença desenvolveu uma deliciosa, porém horrível forma de lidar com os seus cidadãos loucos: eram postos num barco e confiados à navegação, porque, como toda a gente sabia, o mar e a loucura tinham afinidades entre si. Assim, os barcos dos loucos cruzavam os mares e os canais da Europa com a sua cómica e patética carga de almas. Alguns encontravam uma cura na flutuante mudança de cenários, na insolação do naufrago, enquanto outros afastavam-se ainda mais, pioravam, morriam longe da terra natal e da família. Desta forma, cidades e vilas livravam-se dos seus loucos e ao mesmo tempo desfrutavam do prazer ocasional de acolher um novo barco, uma novidade de lunáticos estrangeiros que atracavam nos seus portos por uns dias. (adaptado da introdução de Jose Barchilon ao livro de Michael Foucault, "História da Loucura")
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